Abel Braga saiu, em consenso com a diretoria, nesta segunda-feira e deixa um Cruz-Maltino cheio de dúvidas e lacunas a serem preenchidas
O trabalho de Abel Braga no Vasco foi contestado desde o primeiro momento em que o treinador assumiu a equipe. Três meses, 14 jogos, quatro vitórias, cinco empates e cinco derrotas depois, ele entregou o cargo em decisão de consenso com a diretoria vascaína. Com os próximos dias sem jogos, por conta das suspensões pela pandemia de coronavírus, o Cruz-Maltino terá algumas reflexões pela frente antes de definir o novo nome para o comando.
A primeira delas é com relação à situação financeira. Abel saiu do Vasco sem receber salários. Contratado em dezembro, ele disse na apresentação que sabia da possibilidade desde que as negociações começaram. Não houve pagamento de multa, mas a falta de perspectiva de uma melhora no quadro foi um dos fatores que motivou a decisão. Para a escolha de um novo treinador, pesará a possibilidade de conviver com esses problemas, que impactam diretamente na rotina dos jogadores.
– Ele ( Campello) me disse: “Vou te pagar, mas não pense que vou te pagar em dia”. Ele me disse o que pensa do Vasco. Encerrar a carreira aqui será uma coisa boa. Dar seguimento ao ótimo trabalho do Luxa – disse Abel quando falou como treinador do Vasco pela primeira vez.
Em campo, o que mais complicou a vida de Abel foram as atuações ruins em quase todas as partidas, especialmente depois que a equipe sofre gols, como contra o Fluminense. Mesmo com a estratégia de ter mais a bola, algo que o treinador trouxe diferente do que era praticado por Vanderlei Luxemburgo, o time não soube o que fazer com essa posse e se desorganizou. Quando venceu o problema da criação, não foi eficiente. O meio-campo, especialmente a forma de utilizar Fredy Guarín nesse primeiro momento, são prioridades no novo trabalho. Portanto, a palavra de ordem do próximo nome é, enfim, convencer.
O que o novo comandante poderá aproveitar são dois jogadores que se destacaram na temporada. O primeiro e principal acerto de Abel nesse período é Andrey, reserva em 2019 e recuperado sob o comando do veterano. Ele é o principal responsável por quase tudo que deu certo no Vasco até aqui. O outro nome é Germán Cano. Contratado para resolver o problema do ataque, ele marcou cinco dos oito gols da equipe até o momento. A defesa, mesmo ainda com algumas ressalvas, também pode ser vista como um ponto de equilíbrio.
De negativo, jogadores que estavam bem no ano passado e não renderam, como Marrony, Raul e Yago Pikachu, precisam de atenção. Muitos dos problemas que o Vasco apresenta nesta temporada passam, não só pelo trabalho do treinador, mas também pela queda nas atuações de atletas importantes em outros momentos.
Na nota oficial divulgada pela assessoria pessoal, Abel Braga deixa claro que optou por sair neste momento para que o Vasco tenha tempo de iniciar o novo trabalho. O time não jogará por algum tempo por conta das paralisações pela pandemia do coronavírus. O treinador já havia feito isso quando saiu do Fluminense, em 2018, quando houve a paralisação para a Copa do Mundo. A expectativa agora é como o Cruz-Maltino irá se comportar no andamento da temporada.
Abel deixa o Vasco com os seguintes números: oito gols marcados, 10 sofridos, 702 passes necessários para marcar um gol no Campeonato Carioca e 627 na Copa do Brasil. Cano é o líder em finalizações, com 38, e Marrony vem em seguida, com 27.
Fonte: Lance