No Brasil, 7 a cada 10 vítimas de feminicídio são mortas dentro de casa. Como se proteger do coronavírus se expondo a outro perigo?
Em uma unidade básica de saúde, a médica generalista Liliane Barros recebeu uma paciente do sexo feminino, casada, aproximadamente 25 anos. O caso dela chamou a atenção: “O marido disse que faria algo com ela caso os filhos tivessem qualquer sintoma da covid-19”, disse Liliane.
Diante da recomendação da Organização Mundial da Saúde de permanecer em casa, o Brasil também tem que dar conta do agravamento da violência doméstica. No país em que, só em 2019, 7 a cada 10 vítimas de feminicídio foram mortas dentro de seus lares, ficar em casa certamente não significa se manter segura.
Segundo pesquisadora de gênero, especialista em sociopsicologia e relações públicas Gabriela Moura, este é um momento prematuro para determinar uma causa única para o aumento da violência doméstica, durante a quarentena.
“É uma obrigação do Estado proteger essas mulheres. Assim como proporcionar abrigos e proteção para que mulheres possam se manter afastadas desses homens, além de incentivar canais de denúncia.”
Socorro online
A promotora de Justiça de São Paulo Gabriela Manssur é uma das figuras que tem novas redes de luta contra a violência de gênero. Ela está na frente do projeto Justiceiras, uma iniciativa com 500 voluntárias na área do Direito, Psicologia e Assistência Social que visa mulheres vítimas de violência doméstica em quarentena. De acordo com Manssur, uma ideia do projeto é eliminar a dificuldade no deslocamento para buscar ajuda e contribuir com as informações solicitadas por uma mulher que pode denunciar ou agressor.
“Essas mulheres não conseguem sair de suas residências não apenas pela recomendação de permanecer em casa, mas também porque elas estão sob os olhos do agressor. Se já existe uma situação de violência, agora com quarentena, essas mulheres ficam muito mais expostas ao controle e agressividade “, explica.
“Esse projeto não fará uma ação de execução, mas informará ou fará, quem procurar, quais são os locais onde essa mulher pode se dirigir.”
Fonte: R7