Nos dois PA’s do município, a população reclama que pacientes com suspeita da doença não estão sendo isolados dos demais enquanto aguardam atendimento
Em 20 dias, o número de casos confirmados do novo coronavírus em Vila Velha cresceu mais de sete vezes, saltando de 87 para 666. Já o de mortes é oito vezes maior, passando de duas para 17 nesse intervalo. O município, inclusive, é o recordista em número de registros da doença no Espírito Santo.
Entretanto, a estrutura para combater a covid-19 na cidade canela-verde não evoluiu tanto assim. A exemplo do que fez 20 dias atrás, a equipe de reportagem da TV Vitória/Record TV voltou a percorrer os dois PA’s de Vila Velha, na Glória e em Cobilândia, para ver como está a atendimento nessas unidades de saúde.
Em ambos os PA’s, os relatos são muito semelhantes: quem chega com sintomas da covid-19 divide a sala de espera com outros pacientes. São atendidas, em média, 550 pessoas por dia, entre o PA da Glória e o de Cobilândia. Desses atendimentos, 200 são de casos suspeitos de coronavírus, segundo a prefeitura.
No PA da Glória, a reportagem encontrou a auxiliar de serviços gerais Ione Pereira, que, por apresentar sintomas da covid-19, está afastada do trabalho, no Hospital Infantil de Vila Velha. Ela conta que logo desconfiou dos sintomas.
“Comecei com dor no corpo e na cabeça. Procurei a unidade e eles falaram que era dor muscular. Retornei agora, no dia 26, já com febre. E estou voltando agora com sintomas diferentes, que é a falta de ar, perdi o olfato e o paladar, e muita dor no corpo. A dor não para, não tem remédio que resolva. Dor de cabeça e principalmente nas articulações, nas pernas”, relatou.
Quando as dores pioraram, ela decidiu sair do isolamento e procurar ajuda na unidade de saúde. Ela conta que recebeu uma porção de receitas médicas e voltou para casa. Além disso, mesmo com suspeita de coronavírus, não fez o teste para confirmar a doença.
“Não cheguei a fazer o teste, mas pelos sintomas que eu apresentei, a médica falou que com certeza é covid”, disse a auxiliar, que afirmou não ter sido isolada dos demais pacientes, mesmo com a suspeita da doença.
Já no PA de Cobilândia, a reportagem conversou com a dona de casa Maria Cândida de Deus, que foi à unidade levar a filha, que também apresenta sintomas como falta de ar. A dona de casa também disse que a filha não ficou isolada dos outros pacientes enquanto aguardava atendimento, apesar da suspeita de contaminação pelo coronavírus.
Estrutura das unidades
Nos últimos 20 dias, o número de respiradores disponíveis nas unidades de saúde do município continuou o mesmo: são nove, no total. Segundo o prefeito Max Filho, está difícil comprar os equipamentos. Por isso, vai remanejar dois, do PA de Cobilândia para o da Glória, onde a procura é maior.
“A ata previa dez respiradores, mas entregaram cinco no início do ano, e os outros cinco tiveram dificuldade de entregar. Nós temos feito um balanceamento na nossa rede. Temos procurado concentrar mais equipamentos no PA da Glória, que tem tido uma procura maior, para que concentremos mais no PA da Glória um atendimento que possa manter a vida desse paciente, uma vez confirmado com covid. Que esse paciente possa evoluir para uma internação hospitalar e que ele possa, já no PA, ter o atendimento enquanto aguarda um leito hospitalar”, ressaltou o prefeito.
Já o número de leitos de isolamento foi ampliado de dois para nove. Os casos considerados mais graves continuam sendo encaminhados para hospitais de referência. Os pacientes só ficam nos leitos enquanto aguardam vaga no sistema público estadual.
A reportagem também questionou o prefeito sobre o motivo das reclamações em ambos os PAs, de que casos suspeitos de coronavírus não são isolados.
“Vai crescer a procura por doenças respiratórias nesse tempo. Então o diagnóstico, inicialmente, pode ser uma gripe comum ou pode ser o covid-19. Os testes são feitos, na medida em que o Ministério da Saúde orienta a aplicação desses testes, o Estado também tem repassado às prefeituras que façam esse teste. Eles têm sido aplicados na população e, uma vez confirmada [a covid-19], é feita a separação. Agora, independente do tipo de vírus que a pessoa contrai, o protocolo é o mesmo, do distanciamento social, do uso de máscaras, do afastamento de um contato mais próximo”, explicou Max Filho.
Sobre o fato de a paciente não ter sido testada no PA da Glória, o prefeito disse que vai apurar o que aconteceu, já que, segundo ele, não faltam testes em Vila Velha.
Max Filho disse ainda que, em maio, vai inaugurar uma unidade de saúde e mais um Pronto Atendimento, em Riviera da Barra, que, segundo ele, pode se tornar hospital de campanha, caso necessário.
“Se o Estado vier a precisar de leitos hospitalares, na forma de hospitais de campanha, essas novas unidades já estão à disposição do Governo do Estado para isso”, afirmou.
Fonte: Folha Vitória