Esperança ganhou força na semana passada, quando uma autoridade americana afirmou que, de acordo com uma nova pesquisa, a luz solar destrói rapidamente o vírus
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Os indonésios nunca tomaram tanto sol. Em um país devoto à pele clara, a população aproveita os raios do sol e até se bronzeia na esperança de evitar o novo coronavírus. O interesse por uma prática associada a estrangeiros que visitam Bali decorre de alegações infundadas feitas nas redes sociais de que a luz solar (e a vitamina D que ela fornece) pode retardar ou matar o novo coronavírus.
Uma esperança que ganhou força na semana passada, quando uma autoridade americana afirmou que, de acordo com uma nova pesquisa, a luz solar destrói rapidamente o vírus. O estudo ainda não foi avaliado de forma independente, mas o presidente Donald Trump o citou com entusiasmo durante uma conferência de imprensa.
“Antes, eu evitava o sol porque não queria me bronzear”, diz Theresia Rikke Astria, uma dona de casa de 27 anos de Yogyakarta, capital cultural da Indonésia. “Mas espero que fortaleça meu sistema imunológico”. Os médicos duvidam disso, embora reconheçam que uma exposição solar de 15 minutos pela manhã pode ser benéfica.
“Expor o corpo à luz solar direta é bom para obter vitamina D, não para prevenir diretamente a doença”, diz o médico Dirga Sakti Rambe, do Hospital OMNI Pulomas de Jacarta. A vitamina D que pode ser adquirida por meio do consumo de peixes, ovos e leite e na exposição ao sol é importante para o sistema imunológico, explica, mas “o banho de sol não mata o vírus que causa a COVID-19”.
Não será devido à falta de sol neste arquipélago tropical de 5.000 km localizado no sudeste asiático. Esse súbito interesse em sair ao ar livre levou o governo indonésio a alertar sobre os perigos do câncer de pele e a recomendar proteção solar. Um aviso incomum no país onde os anúncios de produtos de beleza elogiam a pele clara. Em toda a Ásia, a pele clara tem sido associada à classe social alta, e os produtos para clareamento da pele são vendidos como pão quente.
Embora o banho de sol tenha se tornado moda, não significa pessoas em trajes de banho sugestivos. E é que neste país, de população majoritariamente muçulmana, os códigos de vestuário são relativamente conservadores, especialmente para as mulheres.
‘Tom de pele asiático’
A pandemia mudou a opinião de Rio Zikrizal. “Em tempos normais, eu relutaria em aproveitar o sol”, declara o morador de Jacarta. “Eu tenho um tom de pele asiático que escurece facilmente, então frequentemente uso produtos para clarear a pele”, diz.
Nabillah Ayu, que mora nos arredores da capital, inicia sua nova rotina de banhos de sol por volta das 10 horas, no momento em que costumava estar no escritório, na esperança de evitar a COVID-19, que pode ser fatal.
“A luz solar não pode matar diretamente o coronavírus, mas pode fortalecer o sistema imunológico e impedir que você o contraia”, diz a jovem de 22 anos.Algumas unidades militares e policiais incorporaram sessões de bronzeamento, com torso exposto, em suas rotinas matinais de exercícios.
E nas principais cidades, os habitantes saem dos bairros com ruas estreitas e escuras em busca de áreas abertas. Até trilhos de trem, onde podem tomar sol sem obstáculos.Você vê uma mistura de mulheres com as mangas arregaçadas, mas usando o hijab (véu islâmico), jovens sem camisa e aposentados. Todos em busca de um raio de sol.
“Comecei a tomar sol regularmente desde a pandemia”, conta Alfian à AFP perto de uma via férrea em Tangerang, nos arredores de Jacarta. “Então eu tomo banho e meu corpo está mais em forma”. O aposentado Wadianto Wadito, de 65 anos, portador de diabetes, acredita que deve recorrer ao que estiver à mão. “De qualquer forma, eu já estou tomando muitos remédios, então agora saio ao sol para obter as vitaminas sem adicionar mais pílulas”.
Agence France-Presse