Neste domingo (31), Dia Mundial sem Tabaco, especialista explica como consumo facilita fixação do coronavírus no pulmão e leva a cardiopatias

O tabagismo é uma doença crônica causada pela dependência à nicotina, droga encontrada nos produtos à base de tabaco. Seu consumo, que ocorre principalmente por meio do cigarro industrializado, pode contribuir para agravar a covid-19 porque gera inflamações no organismo, danos pulmonares e aumenta o risco de doenças cardiovasculares.

“A queima do tabaco vai liberar uma fumaça tóxica que causa danos pulmonares a longo prazo. Em um intervalo mais curto de tempo, ocorre um processo inflamatório que facilita a fixação do vírus na mucosa dos brônquios, uma vez que isso acontece, o vírus se multiplica”, explica o pneumologista José Rodrigues Pereira da BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

De acordo com ele, o problema acontece porque pessoas que têm o hábito de fumar se submetem aos efeitos dessas toxinas constantemente.

“A questão é que o fumante ativo não fuma um cigarro, mas vários durante o dia. Então, existe o consumo de tabaco diversas vezes por dia, o que gera uma carga cumulativa”, destaca. “A nicotina [princípio ativo do tabaco] causa mais dependência que cocaína, ela chega próxima ao crack”, compara.

Pulmão de fumantes tem mais ‘portas’ para o vírus

Estudo feito pela Baylor College of Medicine em parceria com a Universidade da Carolina do Sul e outras instituições de ensino superior dos Estados Unidos mostrou que a expressão do receptor que o novo coronavírus usa para entrar nas células, o ACE-2 (enzima conversora de angiotensina 2, na sigla em inglês), é 25% maior nos pulmões de pessoas que fumaram pelo menos 100 cigarros durante a vida.

“Temos a hipótese de que os piores quadros de infecções por covid-19 em regiões do mundo com altos níveis de tabagismo podem ser resultado do hábito de fumar dos pacientes”, afirma o diretor do Instituto de Pesquisa Clínica e Translacional de Baylor, Christopher Amos.

“Estudos com pacientes afetados pela covid-19 ajudariam a esclarecer a influência do tabagismo nas complicações causadas pela doença”, ressalta.

PublicidadeFechar anúncio

Pereira, por sua vez, faz uma analogia entre uma árvore de ponta cabeça e o pulmão: o tronco equivale à traqueia, os galhos aos brônquios – suas ramificações aos brônquios menores – e a cúpula aos alvéolos. É nessas estruturas que o novo coronavírus se fixa melhor.

“O coronavírus tem uma afinidade maior pelos alvéolos, responsáveis pela troca gasosa. É nessa parte que o vírus promove a inflamação, por isso vem a falta de ar”, detalha.

Tabagismo aumenta risco de doenças cardíacas

O tabagismo é considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e morte precoce em todo o mundo, segundo a Sociedade Americana contra o Câncer. 

No Brasil, a dependência à nicotina mata 156.216 pessoas por ano – o que corresponde a 428 mortes diárias, aponta pesquisa feita em 2017 pelo Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária, que reúne países da América Latina.

Desse total, 35 mil mortes são causadas por doenças cardíacas e 10.812 por AVC (acidente vascular cerebral), problemas que também deixam as pessoas mais vulneráveis a ter complicações por causa da covid-19.

“As substâncias tóxicas [liberadas durante o consumo do tabaco] entram pela via aérea e caem na corrente sanguínea, assim elas obstruem as artérias, o que leva a doença coronariana, infarto e AVC”, explica Pereira.

Leia também: Covid-19 gera inflamação que pode causar AVC, diz especialista

“Os danos pulmonares também geram uma sobrecarga cardíaca, já que o pulmão e o coração estão intimamente ligados em suas funções”, acrescenta.

Fonte: Portal R7