A dexametasona, que apresentou resultados positivos em teste no Reino Unido, é objeto de um estudo clínico também no Brasil
O medicamento dexametasona, que apresentou resultados positivos na redução de mortalidade de casos graves de covid-19 em teste no Reino Unido, é objeto de um estudo clínico também no Brasil. A Coalizão Brasil Covid, esforço coordenado pelos hospitais Sírio Libanês, Albert Einstein, HCor, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa (BP) para testar diversas drogas candidatas, está recrutando voluntários no País para testar a droga em um estudo randomizado e com grupo controle também com pacientes com quadro severo da infecção pelo novo coronavírus.
De acordo com o médico intensivista Luciano Azevedo, do Sírio, que é o principal investigador do estudo, ainda estão sendo recrutados pacientes e o plano é chegar a 350. Como o estudo ainda estão em andamento, ele não quis apresentar nenhum resultado preliminar.
O recrutamento deve continuar até o fim do mês e, assim como no estudo britânico, haverá acompanhamento dos pacientes por 28 dias. Assim, a expectativa é que os resultados sejam divulgados no começo de agosto.
Azevedo explica que a droga foi escolhida para a investigação por já ter demonstrado bom resultados em outros tipos de síndrome respiratória aguda grave causadas por outros vírus e bactérias. “Em pacientes sem covid, a dexametasona já tinha mostrado benefícios na diminuição do tempo em que os pacientes passam no ventilador e na chance de morrer. Mas não era covid.
Os medicamentos usados no estudo foram doados pela Aché Laboratórios, que produz o produto de referência da dexametasona no Brasil, o Decadron, o mecanismo de ação do corticoide é de de anti-inflamatório. “Apesar de o coronavírus ter como alvo o pulmão e a vias aéreas superiores, está cada vez mais claro que é uma doença sistêmica, que acaba sendo gatilho para uma resposta inflamatória importante”, diz Stevin Zung, diretor-médico da Aché
Desse modo, a proposta não é usar o medicamento na fase inicial da doença, quando ainda há replicação viral forte, mas nas etapas posteriores, quando o processo inflamatório é mais pronunciado.
Zung lembra que no início da pandemia havia o temor que corticoides poderiam acelerar a replicação viral se aplicados na fase inicial da doença, mas estudos não foram conclusivos. Mas por isso a proposta é de uso quando o quadro já é grave.
Ele alerta também sobre os riscos de uso indevido do medicamento. “O uso indiscriminado, de maneira crônica e não adequada de corticoides, pode causar hipertensão, hiperglicemia, pode gerar descontrole da diabetes. Além de trazer alterações no sistema endócrino, osteoporose e trombose venosa.”
Azevedo também frisa esse risco e alerta que o estudo Recovery, do Reino Unido, não é indicativo para uma corrido às farmácias. Ele teme que médicos que não sejam pesquisadores prescrevam para pacientes que não tenham as as condições demonstradas com benefício no estudo. Houve redução de 33% do risco de morte para pacientes graves, submetidos à ventilação, e de 20% para pacientes que precisavam de oxigênio. Não houve benefício para casos leves.
“Quando o estudo for publicado, se o benefício ficar claro, será para usar o medicamento em hospital. Não é para todos, nem para prevenção”, diz Azevedo.
O que é a dexametasona
É um corticoide usado contra doenças reumatológicas, como artrites, e alérgicas, como asma. Ele atua como um potente anti-inflamatório. No Brasil, o produto de referência é o Decadron, mas também há versões genéricas.
Efeitos colaterais
O uso indiscriminado do medicamento, de forma crônica, pode causar vários problemas como retenção de líquidos, levando à hipertensão; hiperglicemia e descompensação de diabete. O remédio também é um imunossupressor, diminuindo as defesas próprias do organismo.
Limitações do estudo
O ensaio clínico no Reino Unido mostrou que a dexametasona só reduziu a taxa de mortalidade de pacientes graves de covid-19, que dependam de ventilação ou estejam com oxigenação baixa. A aplicação recomendada é hospitalar. Não há indicação para casos leves nem para prevenção.
Fonte; Estadão