Pesquisadores do Hospital das Clínicas vão coletar sangue de pessoas que já se contaminaram para analisar a produção de anticorpos desses pacientes
A continuidade nas medidas de segurança para evitar o contágio pelo novo coronavírus é o recomendado pelos médicos, inclusive para quem já foi infectado com a covid-19. Isso porque ainda não houve tempo suficiente para saber se o paciente pode se reinfectar.
E é justamente isso que um estudo do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória, quer saber. Os pesquisadores do Hospital das Clínicas vão coletar sangue, por um período de seis meses, de um grupo de pessoas que já se contaminaram, e analisar a produção de anticorpos desses pacientes.
A ideia é descobrir se quem passou pelo coronavírus está imune para o resto da vida — como acontece com o sarampo, por exemplo, que se a pessoa pegou uma vez, não pega mais — ou se os anticorpos vão enfraquecendo ao longo do tempo e o paciente corre o risco de contrair a covid-19 novamente.
“A gente não sabe se esses anticorpos vão ser perenes, ou seja, se eles vão permanecer em nível elevado no sangue ao longo do tempo ou, como alguns estudos iniciais estão começando a indicar, que eles decaem com o tempo. Então essa pesquisa tem esse objetivo: de mapear como esses anticorpos vão variar ao longo do tempo em pacientes que desenvolveram e se curaram da doença”, explicou o gerente de ensino e pesquisa do Hucam, José Geraldo Mill.
Os pacientes acompanhados são profissionais da saúde, colaboradores do próprio hospital e que se recuperaram da covid-19. A meta é recrutar 200 candidatos. “Os profissionais que trabalham na linha de frente do projeto, com os pacientes dos hospitais, têm maior probabilidade de se reinfectarem. Então essa é uma população de maior nível de exposição e é a população inicial que nós estamos desenvolvendo esse projeto. Mas, já de antemão, esse mesmo tipo de estratégia deverá ser, no futuro, desenvolvido para outras populações”, destacou Mill.
Enquanto resultados de estudos como esse não saem, o jeito é manter os cuidados em dia, como explica o médico infectologista Paulo Peçanha. “A recomendação, neste momento, é de que as pessoas mantenham a proteção: mantenham máscara, os cuidados de higiene, lavando as mãos, os cuidados ao tossir e ao respirar, mantenham o distanciamento e mantenham todos os cuidados com relação a aglomeração”, orientou.
O coordenador da pesquisa é otimista. “A imunidade, na verdade, pode ser dada por anticorpos, mas nós temos um outro tipo de imunidade, que é a imunidade celular, que também pode ser ativada em alguns casos de infecções virais ou bacterianas”, ressaltou José Geraldo Mill.
Cuidados mantidos
Entretanto, não é o momento de relaxar, mesmo para quem já teve a doença. É o que vem fazendo o enfermeiro Raimundo Xisto de Ramos Filho, que foi infectado no mês de abril. De volta ao trabalho, ele continua tomando todas as medidas de proteção, mesmo após vencer o coronavírus.
O enfermeiro trabalha em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) à noite e em uma unidade de saúde durante o dia. “O fato de eu ter me contaminado com o coronavírus e ter me curado jamais vai deixar que eu fique com desleixo, porque eu já me infectei e, teoricamente, eu não vou me infectar de novo. Ao contrário, nós temos que tomar todas as medidas de segurança”, afirmou.
Tomar os cuidados necessários é o que também vem fazendo Leila Cardoso, que também se recuperou da covid-19. “Não foi fácil, sofri muito. Continuo com meus protocolos, lavando as mãos, usando álcool. Se eu vou sair, eu uso minha máscara”, alertou.
“Não existe um estudo que dê certeza de que a pessoa não vai se reinfectar. E mesmo que existisse, as medidas de higiene nós temos que tomar, até porque, além do corona, outras doenças podem ser transmissíveis”, completou Raimundo.
Fonte: TV Vitória/Record TV