Ambos mal se conheciam e não se falavam, e, por isso, ainda segundo os moradores, desconhecem alguma animosidade anterior entre eles
Parte dos moradores da pequena Favela da Linha, na Vila Leopoldina (zona oeste da capital), foi acordada na manhã da última sexta (3) com gritos de socorro vindos da única viela da comunidade. Os que tiveram coragem de abrir as portas ou janelas para atender o chamado se depararam com uma cena brutal.
Os gritos eram do desempregado Luciano de Andrade, 43, que era atacado a facadas pelo ajudante de cozinha Lucas Cipriano da Silva, 20, ambos moradores da favela. Testemunhas disseram à reportagem que Andrade seguia para a padaria quando, sem motivo aparente, passou a ser agredido pelo vizinho.
Ambos mal se conheciam e não se falavam, e, por isso, ainda segundo os moradores, desconhecem alguma animosidade anterior entre eles. Acreditam, por isso, em um ataque aleatório, até porque tiveram notícias de Silva teria investido contra uma mulher à noite, mas ela conseguiu escapar sem ferimentos.
As testemunhas relatam ainda que elas tentaram afastar o agressor de cima da vítima, gritaram para que ele parasse, chegaram a atirar objetos contra ele, como vasos de vidro, cinzeiros e até um banco de madeira, mas nada conseguiu demovê-lo.
“Ele parecia que estava possuído, ou muito drogado, não sei. Nada fazia ele parar. Ainda dava risadas quando dava facadas no Luciano. Parecia um monstro”, disse Maria (nome alterado a pedido da testemunha).
A sequência do crime foi ainda mais brutal. As testemunhas relatam que o agressor fez com que a vítima se calasse quando desferiu uma facada na jugular dela e, posteriormente, a decapitou.
“Ele fez aquilo muito fácil. Certamente deve ter feito antes, só pode. Quando ele pegou cabeça, ainda ficou dando beijos nela. Ficou dando beijos na cabeça”, disse Maria.
Os vizinhos também disseram que após a decapitação, o ajudante de cozinha foi até a casa onde mora com mãe onde pegou um saco preto de lixo para colocar a cabeça dentro. Silva também teria arrastado o corpo de Andrade pela viela até um ponto específico, e, antes de partir, desferiu um chute contra ele.
As testemunhas relatam que quatro moradores tentaram pará-lo com pedaços de pau, mas Silva teria colocado todos para correr. “Perguntaram para o Lucas porque fez aquilo e ele respondeu: ‘Ele [Andrade] sabia demais”, disse Maria.
Acionados pelos moradores, policiais militares chegaram quando Silva ainda estava na viela, perto do corpo, e, segundo testemunhas, também foram atacados pelo agressor. Foi neste momento que recebeu o primeiro disparo.
Vídeos obtidos pela reportagem mostram parte da ação policial. Gravados por testemunhas, um deles mostra Silva já caído a meio fio na avenida que passa próxima à comunidade, quando, após alguns segundos, ele se levanta, retira de dentro do saco preto a cabeça da vítima, coloca-a debaixo do braço, e atravessa a rua, afrontando os PMs.
O outro vídeo mostra o agressor caído na calçada, cercado por policiais, e a cabeça da vítima aparece caída no chão cerca de dois metros longe dele.
O registro policial informa que os policiais militares passaram a ser hostilizados por parte dos moradores da favela e, por isso, decidiram socorrer Silva.
Por envolver uma morte em decorrência de intervenção policial, o caso está sendo investigador pelo DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa). Uma das linhas de investigação é um possível surto psicótico por parte de Silva.
Fonte: FolhaPress