“Sinto muito por todos. Agradeço a todos que estiveram comigo na minha vida”, escreveu Park, que pediu para ser cremado e que suas cinzas fossem espalhadas nos túmulos de seus pais

O prefeito de Seul, Park Won-soon, encontrado morto nesta quinta (9), deixou uma carta de despedida com um pedido de desculpas antes de morrer.

O bilhete, escrito à mão, com tinta e pincel, foi encontrado em sua residência oficial e divulgado pelas autoridades da cidade nesta sexta (10).

“Sinto muito por todos. Agradeço a todos que estiveram comigo na minha vida”, escreveu Park, que pediu para ser cremado e que suas cinzas fossem espalhadas nos túmulos de seus pais.

“Sinto muito pela minha família, a qual só causei dor”, continuou, antes de encerrar com um “adeus a todos”.

Na carta, Park não fez referência à acusação de assédio sexual feita contra ele por uma secretária de seu gabinete, um dia antes do aparente suicídio.

Segundo a agência de notícias AFP, um documento que seria o depoimento da vítima, a secretária pessoal de Park desde 2015, afirma que o ex-prefeito cometeu “assédio sexual e gestos inapropriados durante as horas de trabalho”, como insistir que ela o abraçasse no dormitório anexo a seu escritório.

Depois do trabalho, afirmou, ele enviava “selfies com roupas íntimas e comentários lascivos” em um aplicativo de mensagens.

“Fiz uma lavagem cerebral em mim mesma, com medo e humilhação tremendos, de que tudo isso era para o bem da cidade de Seul, meu e do prefeito Park”, disse ela, segundo o documento.

A polícia confirmou que uma denúncia foi apresentada, mas se recusou a confirmar os detalhes.

Park foi encontrado morto horas após sua filha ter reportado o seu desaparecimento.

Segundo a Agência de Polícia Metropolitana de Seul, o corpo do prefeito foi localizado no Monte Bugak, região norte da cidade, perto da última área rastreada por meio do sinal de seu telefone celular.

Centenas de policiais foram destacados para realizar as buscas, com o auxílio de drones e cães farejadores.

Prefeito de Seul desde 2011, Park tinha mais dois anos de mandato. Seu substituto será Seo Jeong-hyup.
O político, do Partido Democrático, era visto como potencial candidato à Presidência da Coreia do Sul nas próximas eleições, marcadas para 2022.

Antes de ser prefeito, advogava contra violações de direitos humanos e ganhou vários casos importantes, como a primeira condenação por assédio sexual na Coreia do Sul, segundo o jornal The New York Times.

Ele também fez campanha pelos direitos das chamadas “mulheres de conforto”, escravas sexuais coreanas forçadas a trabalhar em bordéis para o Exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial.

Park elogiou a coragem das mulheres sul-coreanas quando o movimento #MeToo se espalhou pela Coreia do Sul, em 2018, e apresentou diversas acusações de abuso sexual contra uma série de homens importantes no país.

“Resolver casos individuais não é suficiente. Acho que precisamos de solidariedade social”, disse ele à época, pedindo apoio ao movimento.

O prefeito também se destacou nas manifestações que ajudaram a concretizar o impeachment da ex-presidente Park Geun-hye em 2017.

Ele foi um dos líderes mais agressivos da Coreia do Sul no combate ao coronavírus, impondo uma série de medidas municipais destinadas a conter sua disseminação, como o fechamento de casas noturnas.

As medidas levaram Seul a registrar apenas 1.390 casos da Covid-19.

Um representante da família de Park emitiu uma nota afirmando que é hora de deixá-lo partir e pediu às pessoas que parem de espalhar “afirmações sem fundamento”.

“Se os casos de difamação mentirosos contra ele continuarem, iremos responder severamente na Justiça”, disse Moon Mi-ran, ex-vice-prefeito de Park.

De acordo com a lei coreana, as investigações de assédio contra Park serão encerradas com a sua morte.

Fonte: FolhaPress