Segundo a sondagem, o setor de vestuário é o que mais sente os efeitos da falta de insumos e componentes, reportada por 74,7% das empresas
A escassez de matéria-prima em vários segmentos e a alta de preços são atualmente os principais fatores que limitam a expansão da produção industrial no País. Pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que, em outubro, a falta de insumo atingiu os maiores níveis desde 2001 em 14 dos 19 segmentos da indústria. Segundo a sondagem, o setor de vestuário é o que mais sente os efeitos da falta de insumos e componentes, reportada por 74,7% das empresas.
Empresas já reduziram o ritmo de atividade por falta de matéria-prima, e quem consegue produzir não pode distribuir o produto por falta de embalagens de papelão, plástico e vidros, hoje o maior problema relatado por empresas e entidades de classe. A escassez, somada ao câmbio desvalorizado, resulta em alta de preços.PUBLICIDADE
A interrupção da produção no pico da pandemia de coronavírus e a volta ao consumo mais forte do que o esperado pegou as empresas com baixos estoques e demanda crescente, em parte por causa do auxílio emergencial pago pelo governo. Com isso, há um descolamento entre fabricantes de matérias-primas – que não conseguem atender à demanda -, de produtos finais e varejo. O temor é que, com a crise sem precedentes, falte produto no mercado justamente num momento de alta demanda, com a Black Friday e o Natal.
A escassez de matéria-prima em vários segmentos e a alta de preços são atualmente os principais fatores que limitam a expansão da produção industrial no País. Pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que, em outubro, a falta de insumo atingiu os maiores níveis desde 2001 em 14 dos 19 segmentos da indústria. Segundo a sondagem, o setor de vestuário é o que mais sente os efeitos da falta de insumos e componentes, reportada por 74,7% das empresas.
Empresas já reduziram o ritmo de atividade por falta de matéria-prima, e quem consegue produzir não pode distribuir o produto por falta de embalagens de papelão, plástico e vidros, hoje o maior problema relatado por empresas e entidades de classe. A escassez, somada ao câmbio desvalorizado, resulta em alta de preços.PUBLICIDADE
A interrupção da produção no pico da pandemia de coronavírus e a volta ao consumo mais forte do que o esperado pegou as empresas com baixos estoques e demanda crescente, em parte por causa do auxílio emergencial pago pelo governo. Com isso, há um descolamento entre fabricantes de matérias-primas – que não conseguem atender à demanda -, de produtos finais e varejo. O temor é que, com a crise sem precedentes, falte produto no mercado justamente num momento de alta demanda, com a Black Friday e o Natal.
Além do vestuário, a falta de insumos também foi apontado por fabricantes de produtos de plástico (52,8%), limpeza e perfumaria (39,1%), farmacêutica (34,2%), informática e eletrônicos (33,1%), além de empresas dos ramos de produtos de metal (31%), couro e calçados (31,1%) e químico (27,9%), entre outros.
Além da escassez, as empresas projetam alta de preços das matérias-primas. No segmento de vestuário, 78,7% das consultadas preveem aumento dos custos de insumos comprados no mercado interno e 71,4% esperam encarecimento também dos importados.
Mais aumentos
“Hoje, a grande dificuldade é com embalagens que, além de escassas, mais que dobraram de preço. O quilo do papelão passou de R$ 10 para R$ 18 e há casos de embalagens que custavam R$ 3 e subiram para R$ 7”, afirma Ronaldo Andrade Lacerda, dono da Lynd Calçados, fabricante de tênis esportivos de Nova Serrana (MG). “A justificativa é a falta de papel”, diz ele, que preside o Sindinova, sindicato que representa 830 indústrias de calçados do polo mineiro.
Segundo ele, há até pouco tempo também faltava PVC (usado em tênis e sandálias), problema que foi resolvido, “mas os preços subiram de 60% a 80% de março para cá e só estamos conseguindo repassar de 15% a 20%”. Lacerda crê que novos reajustes virão até dezembro.
Não há desabastecimento estrutural, dizem fornecedores de insumos à indústria
Fabricantes de insumos e entidades do setor afirmam que o desabastecimento não é estrutural, que ampliaram vendas nos últimos meses e os preços seguem cotação internacional.
Lucien Belmonte, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) diz que a capacidade de produção é limitada pela dimensão dos fornos e não tem elasticidade para ampliação. “Trabalhamos 24 horas todos os dias do ano e, mesmo quando o mercado deixou de comprar continuamos produzindo vidro, quebrando e recolocando nos fornos”, afirma.
Segundo ele, a situação só será normalizada em 2021, sem data definida. Para Belmonte, muitos dos que reclamam da falta de produtos zeraram seus estoques para fazer caixa e, na retomada, querem comprar mais para atender demanda e repor inventários. Ressalta que os preços dos gás natural fornecido pela Petrobrás subiu 30% e o da barrilha, que é importada, 40%.
A Braskem, maior fabricante de resinas do País, afirma que bateu recordes de vendas no mercado interno em agosto e setembro. Em nota, diz que vem privilegiando o mercado doméstico e reduziu exportações. No terceiro trimestre a empresa vendeu mais de 1 milhão de toneladas de resinas. “As vendas no Brasil refletem a priorização que temos dado ao mercado brasileiro”, diz Edison Terra, vice-presidente da Braskem.
Quanto aos preços, diz a que “a companhia segue cotações internacionais e há grande variação cambial, mas temos feito reajustes menores na comparação com preços internacionais”.
Para a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), não há desabastecimento estrutural de resinas termoplásticas. A capacidade instalada para produção é de 7,6 milhões de toneladas por ano e supera a demanda doméstica, informa a entidade. O setor opera com 87% de sua capacidade. “Portanto, ainda há espaço para expandir a produção com os ativos atuais, desde que sejam melhoradas as condições de competitividade”, informa a nota.
A Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO) também diz que a venda de produtos para embalagem vem registrando recordes mensais desde julho. Também que a alta demanda ocorreu em razão da retomada da indústria para atender o maior consumo de bens de primeira necessidade, além do crescimento do e-commerce e delivery, que fizeram inflar o mercado de embalagens de papelão ondulado.
Em outubro a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado cresceu 8% em relação ao mesmo período de 2019. Segundo a ABPO, a mudança rápida do mercado levou o setor a estender o prazo de entrega, costumavam ser de sete a 30 dias, mais de 30 dias. “A previsão de regularização nas entregas é de médio prazo, a depender de como seguirá a economia, principalmente em função do término do auxílio emergencial”, informa a entidade.
Falta de papelão é o problema mais agudo, diz fabricante de shoyo
A fábrica da Sakura, empresa que produz molho shoyu na Vila Carrão, em São Paulo, está com dificuldade de entregar pedidos. Entre maio e junho deste ano passou a receber uma demanda maior do que no pré-pandemia. No entanto, por falta de insumos, não tem conseguido atendê-la. “Já há pouco mais de um mês temos essa pressão. Houve uma aceleração (de demanda) não esperada no segundo semestre. Usamos o que tínhamos e tivemos de fazer mais pedidos. Os fornecedores têm dificuldade de atender os pedidos adicionais”, diz o presidente da empresa, Roberto Massayoshi Otake.
Ele conta que a falta de caixas de papelão é o problema mais agudo. “Temos rupturas de entregas em função da falta de insumos Fizemos substituição de algumas linhas de produto.” Ao todo a empresa tem faturado cerca de 15% a menos do que o previsto para o mês em razão deste problema. “No dia 10 costumamos estar com cerca de 80% da produção já realizada. Neste mês tínhamos em torno de 60% apenas”, informa.
Os produtos não chegam a ficar prontos esperando as caixas, pois a produção nem começa se não houver todos os materiais necessários para completá-las. Além disso, a embalagem de papelão não a única coisa que falta na fábrica. Rótulos, tampas e o filme para fazer sachês também atrasam pontualmente as linhas.
Com as mudanças para atender a normas sanitárias relativas à pandemia de covid-19, os bares e restaurantes para quem a Sakura fornece deixaram de comprar os galões de molho para encher os vidros das mesas. Agora, o molho que é produzido em tachos de 10 mil litros é embalado sachê a sachê de 8 ml. Mudanças como essa já tornaram a produção mais lenta, quando começam a faltar insumos os atrasos ficam inevitáveis, afirma Otake.
Delivery
O que a Sakura enfrenta é um retrato do que toda a indústria brasileira tem vivido. Relatório da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que a falta de insumos para a produção no Estado não está normalizada. Materiais como aço e resinas continuam sofrendo reajustes de preços e devem ter o fornecimento normalizado no fim do ano, no caso das resinas, e n o primeiro trimestre de 2021, no caso do aço.
Para o papelão, o assessor de assuntos estratégicos da Fiesp, André Rebelo, diz que o crescimento do comércio eletrônico e do serviço de delivery aumentou significativamente a demanda. “Além da parada de produção do papelão na fase crítica da pandemia, há uma mudança estrutural na demanda.”
Segundo ele, a desvalorização do real também encareceu a matéria prima das caixas de papelão, bem como do aço, resinas, alumínio e ferro. “Como a demanda está aquecida, o preço é repassado”, explica. Rebelo pontua ainda que a diferença no câmbio impede que a indústria importe esses produtos para suprir suas necessidades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Jornal de Brasília