Profissionais que estão na linha de frente do combate à covid-19 fazem parte dos grupos prioritários que receberão as primeiras doses do imunizante
Depois de meses de trabalho intenso no tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus, com desgaste físico e emocional, profissionais da saúde agora se sentem aliviados com a chegada da tão aguardada vacina contra a covid-19. Eles fazem parte dos grupos prioritários que receberão as primeiras doses do imunizante.
Na primeira etapa da vacinação no Espírito Santo, cerca de 48 mil pessoas serão imunizadas. Desse total, aproximadamente 42 mil são profissionais da saúde. Também serão imunizados cerca de 3 mil idosos com 60 anos ou mais, que residem em instituições de longa permanência, além de quase 2,8 mil indígenas, e 210 pessoas com deficiência.
A primeira dose da CoronaVac, aplicada no Espírito Santo, foi para a técnica de enfermagem Iolanda Brito, de 55 anos, que trabalha no hospital Jayme Santos Neves, na Serra. A dose foi aplicada na noite de segunda-feira, cerca de duas horas após a chegada do lote de vacinas ao estado, e encheu de esperança diversos colegas de profissão.
O enfermeiro Raimundo Xisto de Ramos Filho, que contraiu o vírus ainda em abril, no início da pandemia, conta que teve medo que o pior pudesse acontecer. “Fiquei com muito medo de que eu poderia morrer. Eu, acostumado a cuidar das pessoas, fiquei pensando quem é que vai cuidar dos meus filhos e da minha esposa”, lembra.
Além disso, viu outros colegas adoecerem. Entre eles, um médico, que acabou morrendo. “Muito triste. Uma pessoa que estava cuidando, na linha de frente. Um soldado e que foi abatido pela doença”, lamentou.
O médico intensivista Adenilton Rampineli destacou que, além da rotina estressante, ter de lidar com tantas perdas e tanta dor à sua volta o levou ao limite físico e emocional em diversos momentos, ao longo da pandemia.
“Teve momentos em que a gente já ia dar a notícia de óbito e a gente acabava chorando, se emocionando com a própria família. Foram dias muito ruins. Tinha recurso humano, tinha recurso tecnológico, só que isso era tudo em vão. Isso não modificava, no final do dia, ou durante o dia, a gente assinar três, quatro atestados de óbito. Infelizmente, foi um sofrimento muito grande, que a gente nem sabe o que vai trazer, a longo prazo, para esses profissionais da área de saúde, se vai ficar uma sequela ou um trauma, a gente não sabe”, comentou.
No entanto, com a chegada da vacina, o sentimento de quem está na linha de frente da batalha pela vida se resume a alegria, alívio e esperança. “Dá vontade de gritar mesmo, de comemorar, de celebrar. Eu acho que é isso que a população tem que ter em mente, neste momento. Todo mundo tem que abraçar essa causa, porque talvez a grande saída dessa pandemia realmente seja a vacina”, ressaltou Rampineli.
O também médico intensivista Antonio Viana lembra ainda que a vacina vai ajudar a salvar não só quem contraiu o novo coronavirus, mas também pacientes de outras enfermidades, que terão mas leitos disponíveis no momento em que os casos de covid-19 diminuírem.
“A gente tem que entender que não existe apenas o coronavírus, não existem apenas essas doenças. Nós temos visto patologias terem o seu tratamento interrompido por causa da presença do coronavírus. As cirurgias eletivas muitas vezes foram canceladas”, frisou.
Fonte: Record TV