Jogador do Flamengo foi flagrado em 14 de março em cassino com 150 pessoas na capital paulista. Ministério Público propôs que atleta pague 100 salários mínimos em troca da extinção do processo de crime contra a saúde pública.

O jogador de futebol Gabriel Barbosa Almeida, conhecido como Gabigol, aceitou nesta segunda-feira (26) um acordo com a Justiça de São Paulo para pagar 100 salários mínimos – o equivalente a cerca de R$ 110 mil reais – por ter descumprido o distanciamento social durante a quarentena. No dia 14 de março, o atleta do Flamengo foi flagrado em um cassino clandestino na Zona Sul da capital paulista.

O acordo, proposto pelo Ministério Público, determina que Gabigol pague 100 salários mínimos ao Fundo Municipal da Criança e do Adolescente em troca da extinção do processo de crime contra a saúde pública. Pela lei, o crime de infração à medida sanitária preventiva tem pena prevista de um mês a um ano de detenção, além de multa, no caso de condenação.

Por causa da pandemia de coronavírus, a audiência foi feita por videoconferência às 16h30 desta segunda. Durante a reunião virtual, que durou menos de 10 minutos, Gabriel não comentou o processo e se limitou a aceitar os termos do acordo proposto.

A audiência foi celebrada pelo juiz Fabricio Reali Zia, Juizado Especial Criminal (Jecrim) no Fórum da Barra Funda, Zona Oeste da capital paulista.

Além do atleta, o funkeiro MC Gui e o diretor artístico Rafael Vanucci, filho da cantora Vanusa, também foram detidos no mês passado pela Polícia Civil dentro da casa de jogos ilegais que funcionava em um prédio da Rua Alvorada, no Itaim Bibi.

Todos os envolvidos foram levados a uma delegacia e liberados após assinarem um Termo Circunstanciado (TC), registro policial de menor potencial ofensivo, por terem cometido crime contra a saúde pública.

Um decreto do governo estadual proíbe aglomerações, abertura de restaurantes à noite e eventos fechados durante a pandemia de Covid-19.

A audiência com Gabigol estava marcada inicialmente para ocorrer virtualmente em 20 de abril, mas a Justiça a adiou para esta segunda a pedido da defesa, já que o jogador tinha uma partida contra o Vélez Sarsfield no mesmo dia em que ocorreria seu depoimento. A partida foi em Buenos Aires, na Argentina, pela Copa Libertadores.

G1 não conseguiu localizar Gabigol nem seus advogados para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, no dia 14 de março, o jogador disse que foi ao cassino convidado por amigos para jantar e que só joga videogame. Ele reconheceu, no entanto, que faltou “sensibilidade” ao ir ao local durante a quarentena.

“Acho que faltou um pouquinho de sensibilidade, mas sempre usando máscara, sempre com álcool em gel. Realmente, quando eu percebi que tinha um pouquinho mais de gente, eu estava indo embora”, falou Gabigol.

Rafael Vanucci e MC Gui

De acordo com o Tribunal de Justiça, 22 pessoas que estavam no cassino clandestino foram apontadas inicialmente pela Polícia Civil como responsáveis por crime contra a saúde pública. Desse total, 13 foram ouvidas e aceitaram propostas de transação penal em troca da extinção dos processos contra elas.
O TJ informou ainda que a audiência de Rafael Vanucci foi na última quinta-feira (22), quando aceitou a proposta de pagar a transação penal de 4 salários mínimos (algo em torno de R$ 4.400). O valor é fixado levando em consideração, por exemplo, a capacidade econômica do autuado.

O diretor artístico é filho de Vanusa. A cantora fez sucesso durante a Jovem Guarda nos anos 1970. Ela morreu no ano passado, aos 73, de insuficiência respiratória. O G1 não conseguiu localizar Rafael Vanucci para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem.

Sobre MC Gui, o Tribunal de Justiça informou que levantam os eventuais antecedentes criminais do artista para que o Ministério Público avalie se pode sugerir ou não a transação penal para ele em troca da extinção do processo.

Se os antecedentes forem favoráveis, será designada data de audiência. Se não, será oferecida denúncia pelo MP pelo delito previsto no crime infração de medida sanitária.

G1 não conseguiu localizar o funkeiro para comentar o assunto. Nas suas redes sociais, MC Gui se manifestou em nota após o ocorrido, alegando que o local onde estava era uma casa de poker que foi fechada pela Vigilância Sanitária em decorrência de decretação de fechamento de locais públicos.

De acordo com o juiz Fabricio, a suspeita da realização de jogos de azar dentro do prédio onde funcionava o cassino clandestino ainda será investigada pela polícia. Jogos de azar são considerados contravenção penal e estão proibidos no Brasil há 75 anos.

“O fato merece atenção e comporta diligências complementares. O processo, por isso, irá prosseguir tão somente pela infração da medida sanitária, conservando-se eventuais medidas cautelares já determinadas”, escreveu o juiz . “A existência do cassino clandestino e seus desdobramentos, com possível lavagem de capitais, deverá ser melhor apurado em inquérito próprio”

De acordo com o processo, policiais encontraram mesas de carteado e roletas dentro do cassino clandestino. A investigação apura se os proprietários do imóvel cometeram crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Quando os envolvidos foram detidos, vídeos mostraram alguns deles deixando o prédio com máscaras. Outros frequentadores não estavam com o item de proteção contra a Covid.

O lugar foi descoberto após denúncia anônima feita à polícia. Uma operação conjunta envolvendo Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana (GCM), Vigilância Sanitária e subprefeitura da região foi ao local.

Das mais de 50 pessoas que foram levadas à delegacia, duas delas eram menores de 18 anos (dois adolescentes, com 15 e 17 anos). Doze mulheres que estavam no cassino também foram detidas.

Segundo a investigação, com o gerente da casa foram apreendidos três computadores usados para jogos de azar, uma máquina de contar cédulas de dinheiro, 15 máquinas para pagamento com cartões bancários e R$ 2.300. Todos os envolvidos foram ouvidos e liberados.

Fonte: G1