Autoridades norte-americana confirmaram que o país asiático fez testes com armas hipersônicas com capacidade nuclear
O chefe do Estado-Maior dos EUA, Mark Milley — a maior autoridade militar norte-americana — confirmou na quarta-feira (27) que a China testou armas hipersônicas com capacidade nuclear em 16 de outubro, como noticiou em primeira mão o jornal britânico Financial Times. O míssil circundou a Terra a baixa altitude, reentrou na atmosfera e errou por uma diferença de cerca de 30 quilômetros seu alvo de teste no país asiático.
“O que vimos foi um evento muito significativo de um teste de um sistema de armas hipersônico”, afirmou Milley à emissora de televisão norte-americana Bloomberg. “E isso é muito preocupante.”
Segundo o professor de Relações Internacionais da Facamp (Faculdades de Campinas), James Onnig, mísseis hipersônicos são projéteis que conseguem sair da atmosfera e atingir os inimigos de forma muito mais rápida — uma tecnologia bastante superior aos mísseis de longo alcance testados pela Coreia do Norte no mês passado, por exemplo. As forças armadas chinesas vêm evoluindo de forma consistente, sobretudo nos últimos 20 anos, e o país está investindo cada vez mais não só em armas, como também em cibersegurança.
Na segunda-feira (25), antes mesmo de os últimos testes chineses serem oficialmente confirmados pelos Estados Unidos, o país já havia demonstrado preocupação em relação à especulação e declarado que o avanço militar da China iria aumentar a tensão mundial. O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, descreveu o gigante asiático como o principal desafio na esfera militar para o país.
“Isso mostra que os americanos realmente ‘acusaram o golpe’, isto é, sentiram que os chineses estão chegando em um estágio de evolução tecnológico ameaçador para o poderio dos Estados Unidos”, diz Onnig. “Então quando eles dizem que a China é uma ameaça para o mundo, na realidade, o que eles estão afirmando é que o país é uma afronta à sua hegemonia.”
Para o professor, um fato recente demonstra o quanto os EUA estariam preocupados com o avanço militar da China: nas últimas semanas, o país fez um pacto com a Austrália e o Reino Unido para fornecer tecnologia de propulsão nuclear para um submarino australiano. A Austrália é o país mais próximo ideologicamente dos Estados Unidos que está mais próximo geograficamente da China.
A estratégia por trás desse pacto é que, pelo fato de os EUA estarem preocupados com a expansão do poderio militar chinês na Ásia, o país, então, decidiu armar a Austrália, que agiria como uma alternativa de “contenção” à China na região do Pacífico.
O gigante asiático vem desenvolvendo uma marinha muito poderosa, com submarinos capazes de alcançar regiões muito profundas do oceano e devidamente equipados para se proteger em casos de guerra.
Conflitos regionais
Outra preocupação expressa pelos Estados Unidos quanto ao avanço militar da China é em relação aos conflitos que podem ser desencadeados na região, uma vez que os chineses estão em processo de expansão das águas territoriais do mar do sul da China.
Pelo fato de a maior parte do comércio chinês ser feita via transporte marítimo, o país vem investindo em uma frota naval poderosa para garantir a passagem de navios para abastecer a população de insumos e alimentos no caso de uma eventual guerra.
Diante desse cenário, os EUA também têm se movimentado e despachado grandes navios de guerra ao mar do sul da China, para ter capacidade de, se necessário, confrontar a marinha chinesa, considerada atualmente uma das mais fortes do mundo.
E, no meio dessa disputa, há a questão de Taiwan, país que representa uma afronta ao poder de Pequim e ao qual os Estados Unidos se alinhariam em uma possível guerra contra a China.
“Taiwan é uma ilha pesqueira considerada um anexo da China — mas, em 1948, com a proclamação da independência do gigante asiático, os capitalistas que moravam no país foram para Taiwan e fundaram um Estado. Atualmente, Taiwan não é nem reconhecida nem não-reconhecida, é um status meio-termo. Alguns países reconhecem, outros não”, afirma Onnig.
“Mas o fato é que Taiwan, na realidade, está intimamente ligado a fundação da China comunista. Quem era anticomunista, fugiu do país para se refugiar na ilha. Portanto, é certo que, no caso de uma eventual guerra entre China e Taiwan, os EUA apoiariam Taiwan — embora o risco de isso acontecer seja extremamente baixo, pelo menos por agora. No fundo, a mensagem que a China está querendo passar é: ‘nós temos armas poderosas, olha como somos fortes. Se invadirmos aí, vocês não vão durar nem cinco minutos'”, completa.
Fonte: R7