Das cidades capixabas atendidas pela Cesan, atualmente 93% da população conta com serviços de abastecimento de água e 54,1% com os serviços de esgoto
O Espírito Santo está entre os seis estados brasileiros que mais lançam nos rios esgoto sem o devido tratamento. A conclusão é da pesquisa Atlas de Saneamento – Abastecimento de Água e Esgoto Sanitário, divulgada nesta quarta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo os dados do estudo, referentes ao ano de 2017, 1.360 municípios do país declararam lançar esgoto sem tratamento nos rios. Além do Espírito Santo, a prática é vista com mais frequência nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba e Pernambuco.
A Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) é a responsável pelo saneamento em 69% dos municípios capixabas. Das cidades atendidas, atualmente 93% da população conta com os serviços de abastecimento de água e 54,1% com os serviços de esgoto.
O grande desafio, portanto, é ampliar a oferta de esgoto tratado. Vários bairros da Grande Vitória não contam com o serviço, como é o caso de Paul, em Vila Velha.
“Em Paul, o que tem hoje são as galerias. Toda a água é descartada nessas galerias, que têm vazão para o canal da Codesa”, afirmou Gilson Vieira Júnior morador do bairro.
O esgoto em Paul acaba sendo despejado em um rio, que virou valão. “Fico triste quando eu ouço essa palavra ‘valão’. Valão não existe. Existia um rio, existiam áreas que eram manguezais, existia uma parte do mar que estava ali. Mas a quantidade de carga de poluente passa do limite de autodepuração do corpo d’água e, com isso, vai tornando aquilo uma coisa temerosa”, destacou o ambientalista Luiz Fernando Schettino.
A falta de saneamento adequado impacta diretamente na qualidade de vida dos moradores, como é o caso da dona de casa Ely Maria, moradora do bairro Vila Nova de Colares, na Serra.
“Barata, inseto, muito mau cheiro. Isso não acontece só comigo, mas com várias pessoas aqui, que também não têm suas casas ligadas à rede de esgoto da rua”, relatou.
Saneamento no Brasil melhorou, mas milhões ainda estão sem rede de esgoto
Os dados do IBGE mostram ainda que, no Brasil, o saneamento básico melhorou em todas as regiões. Segundo a pesquisa, entre 2008 e 2017 houve um avanço no número de municípios que recebiam serviços de esgotamento sanitário e abastecimento de água.
No entanto, ainda há um caminho longo pela frente, já que milhões de brasileiros ainda não contam com rede de esgoto e água tratada. O Atlas do Saneamento apontou que 99,6% dos municípios brasileiros tinham abastecimento de água em 2017, mas apenas 60,3% tinham coleta de esgoto.
Apenas três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal) apresentam taxas superiores a 85% de domicílios atendidos pelo serviço de coleta de esgoto – respectivamente 93,2%, 87,5% e 86,6%, segundo a PNAD Contínua 2017.
Em 17 estados (todos os da região Norte e sete da região Nordeste, à exceção de Pernambuco e Bahia), as taxas de domicílios atendidos com coleta de esgotamento sanitário por rede geral variaram de 9,9% (casos de Rondônia e Piauí) a 54,0% (no caso de Sergipe).
“A palavra saneamento básico é uma palavra que às vezes as pessoas pensarem que é uma coisa simples. É uma coisa, como diz, de base, fundamental. É cuidar da água que chega na casa das pessoas, dos esgotos que saem, do lixo. É todo um contexto que recebe esse nome, de saneamento básico. Isso é, eu diria, pilar fundamental da saúde e da qualidade de vida”, destacou Schettino.
Os dados do IBGE mostraram ainda que doenças provocadas pelo saneamento inadequado foram responsáveis por 0,9% de todas as mortes ocorridas no Brasil entre 2008 e 2019.
“Isso ajuda muito a elevar a mortalidade infantil, que é uma das principais causas de morte no Brasil. Há um índice, que eu não sei se ele está de todo atualizado, mas nos últimos anos foi uma média de cerca de 11 mil pessoas que morreram devido à ausência de saneamento básico, fora internações, perda de dias de trabalho, etc”, frisou o ambientalista, que reforça que investimento e conscientização têm que andar juntos para mudar essa situação.
“As pessoas que têm poder aquisitivo precisam entender que tem que ligar na rede de esgoto o seu condomínio, a sua casa, independente do custo que vai subir. E as pessoas que têm o menor poder aquisitivo têm que procurar o poder público e exigir dele que dê condição deles ligarem a rede de esgoto, de ter a rede de esgoto nos lugares em que moram”, finalizou.
Fonte: Folha Vitória