O local interditado, em Vila Velha, além de péssimas condições sanitárias, guardava animais mortos e até congelados
Diante do caso que resultou na prisão em flagrante do médico veterinário André Carolino nesta quinta-feira (09), atuante em clínica própria no bairro Pontal das Garças, em Vila Velha, uma coletiva de imprensa foi realizada nesta tarde. O local interditado, além de péssimas condições sanitárias, guardava animais mortos e até congelados.
Durante a entrevista na Delegacia de Polícia Civil de Defesa do Consumidor, uma tutora, chamada Olga Maria, foi ouvida para narrar a história de uma cadela que deu entrada na clínica ainda nesta quarta-feira (08), com queixa apenas de “uma pele no olho”, mas que acabou saindo do local sem vida, dentro de um saco plástico.
“O veterinário disse que Isadora estava infartando. Meu marido questionou, porque antes ela estava normal dentro do carro, era só o caso de uma pele no olho dela. Mas o médico falou que ela estava infartando e que ia ter que fazer uma cirurgia a mais. Nós questionamos novamente e ele disse que, se não fizesse a cirurgia de emergência, ficaríamos sem ela. Comecei a chorar e ele veio com conversa mole para o lado da gente”.
Segundo a tutora, André Carolino conversou com o marido dela sobre uma cirurgia para facilitar a respiração do animal. “A deixamos lá então. Ele passou o valor, não deu papel nenhum para nós. Viemos embora e meu marido até perguntou se a gente poderia buscar no dia seguinte, e o veterinário disse que provavelmente sim. Perguntamos também se ela seria cortada, mas ele tranquilizou, dizendo que seria uma cirurgia simples”, continuou.
partir de então ninguém mais entrou em contato para falar sobre a cadela. “Hoje recebemos uma mensagem de alguém da prefeitura dizendo que era para irmos ao local, já que o médico tinha sido preso. Também disse que a nossa cachorra estava em estado de calamidade. Quando recebi a mensagem, comecei a chorar. Mas no meu pensamento era só um lugar sujo, até falei para o meu marido para irmos buscá-la e levar para outra clínica, porque achei que ela estava com ponto”, disse.
“Quando chegamos lá, fomos procurar a Isadora, mas a recebemos morta, em uma sacola de lixo. Ninguém para nos dar uma explicação de como morreu. Fiquei pensando que, no carro, com ela, na ida para a clínica, tinha dito: “chega de beijo, tá beijando demais a mamãe”, porque ela não parava de me lamber. Mas agora vou levá-la assim para minha casa”.
Análise do delegado
Na ocasião da entrevista coletiva, o delegado titular da Delegacia Especializada de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), Eduardo Passamani, pontuou que o veterinário foi preso por maus-tratos e que está sendo conduzido ao presídio.
“O local conta com péssimas condições sanitárias: encontramos até seringas que já haviam sido preenchidas com anestésico antes e que estavam preparadas para usar de novo, dentro de um isopor. A empresa foi interditada, o proprietário foi preso, os animais ainda vivos foram resgatados. A apuração investigará o quão mais danosa pode ter sido a conduta do veterinário. Ele poderá contar até com agravamento de pena por já ter sido notificado duas vezes pelo cometimento de outros crimes relacionados”, disse.
Segundo a autoridade policial, a polícia também foi chamada porque nas fiscalizações realizadas anteriormente pela prefeitura, havia relatos de que o proprietário fugia pelos fundos do estabelecimento.
“Hoje tivemos também cobertura da guarda municipal para a operação. O local era uma cena de horror, sem capacidade para continuar funcionando. Havia medicamentos vencidos, misturados entre remédios para humanos. E para comprar novos remédios eles não tinham sequer alvará sanitário”, afirmou.
Além de tantos outros animais sem identificação e outros mortos e congelados, o delegado contou que um animal foi encontrado morto em uma sacola de lixo, em cima de um colchão. Também existiam alguns em jaulas, sem água, sem comida, além de outros presos.
“Até o chão estava trincado, quem pisasse descalço poderia se cortar. O andar de cima da clínica o veterinário alugava para a construção civil. A condição era totalmente insalubre, com locais até com sangue espalhado”, conclui
Animais congelados
A reportagem da apurou que, no local, havia dois freezers com vários cachorros mortos congelados. Segundo a polícia, pelo menos 17 animais estariam guardados nos equipamentos. Ainda não se sabe o que era feito com eles.
A ação resgatou pelo menos 14 animais internados. Segundo o titular da Delegacia Especializada de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), delegado Eduardo Passamani, foram encontradas condições insalubres de centro cirúrgico e acomodação, medicamentos vencidos, animais mortos, entre outras irregularidades.
Segundo apuração da, os tutores eram convencidos a deixarem os animais na clínica por um falso aspecto de higiene e limpeza próximo à área da recepção. Apesar disso, o estabelecimento é muito grande e se assemelha a um ferro-velho. Nos fundos do local, é possível ver vasos sanitários, lixo e objetos velhos.
Desde janeiro deste ano a TV vem recebendo reclamações de clientes que levam cães e gatos à clínica. Diversos tutores receberam os animais sem vida. A polícia também encontrou animais mortos em sacolas dentro do próprio centro cirúrgico.
A operação contou com a participação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Estadual de Maus Tratos, da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES), além da Secretaria de Meio Ambiente, Guarda Civil Municipal (GMVV), Secretaria de Defesa Social e Trânsito, Coordenação de Posturas, da Secretaria de Serviços Urbanos e Vigilância Sanitária, todos da Prefeitura de Vila Velha.
O médico-veterinário foi autuado em flagrante por maus tratos. A pena do crime é de 02 a 05 anos.
A defesa do médico disse que só vai se manifestar após ter acesso ao processo.
Fonte: Folha Vitória
