O treinador não fez seu time se impor. Marcar a saída de bola do fraco time de Santa Catarina. Não teve intensidade. Mesmo com reservas era mais do que possível. Segue líder, mas poderia ter cinco pontos de vantagem
Abel Ferreira é excelente treinador.
Mas hoje ele deveria assumir a responsabilidade no empate do Palmeiras diante do limitado Avaí, em 2 a 2.
Mesmo com o calendário absurdo do Brasil, o treinador português sabia da distância do potencial entre o seu time e o de Santa Catarina. Mesmo começando com Dudu, Rony, Raphael Veiga e Marcos Rocha, poupado, no banco de reservas.
Mas não foi assim, em Florianópolis.
A vibração da equipe de Eduardo Barroca foi muito maior, desde o início do jogo. Durou todo o primeiro tempo. E boa parte da etapa final. A postura do Palmeiras foi burocrática, como se a vitória viesse automaticamente. Não veio.
Era a chance para o Palmeiras disparar, abrir cinco pontos do segundo colocado, o Corinthians. E sete do Atlético Mineiro e 13 do Flamengo, seus adversários “reais” pela equivalência dos milionários elencos. Mas, não. A falta de atitude durante todo o jogo é responsável pelo desperdício de dois pontos a mais, com uma obrigatória vitória.
Abel pôs a culpa em tudo e todos. Na vibração “exagerada” do Avaí. No juiz, Wagner do Nascimento Magalhães, que, na visão do técnico não expulsou o zagueiro adversário, Arthur Chaves. No goleiro Vladimir. No calendário.
Menos nele mesmo, que não pôs seu time para marcar forte, com intensidade a saída de bola do fraco Avaí. A falta de empenho, briga pela vitória no primeiro tempo, foi irritante por parte do líder do Brasileiro.
No segundo tempo, quando o treinador colocou seus melhores jogadores, o ritmo foi outro, o Palmeiras teve o jogo nas mãos, mas uma excepcional cobrança de falta de Jean Pyerre empatou a partida. Mas se o bicampeão da Libertadores tivesse a mesma postura durante os noventa minutos, mesmo com os titulares, teria vencido o jogo obrigatório.
“Temos cada vez mais consciência que os adversários contra nós dão a vida. (…) A atmosfera dos campos que vamos é a de que querem nos vencer. Merecíamos sair com os três pontos, mas nem sempre o melhor vence. Saímos daqui com um ponto”, falou, óbvio, e irritado, Abel Ferreira.
O português estava tenso na coletiva. Por conta do espanto dos jornalistas com os pontos desperdiçados e da postura passiva do Palmeiras no primeiro tempo, que fugiu completamente da característica do atual bicampeão da Libertadores.
Os reservas que entraram, impuseram um ritmo lento, desinteressado. Incompatível com o líder do Brasileiro.
O treinador fez sua obrigação, defendeu seus atletas. Procurou usar como desculpa o lado psicológico afetado pelo gol que o time sofreu aos 46 minutos, quando Gustavo Gómez fez pênalti desnecessário em Raniele. E Bissoli cobrou bem, sem chance para Weverton.
“Desde que cheguei aqui falo que não tenho titulares. Tenho um elenco qualificado e acredito em todos os jogadores. Tivemos jogadores que foram para a seleção, nós trocamos e a equipe continuou a responder. A equipe jogou bem, sofremos um golpe duro com um gol aos 46 minutos no estado emocional.
“Entramos focados (no segundo tempo), fizemos um gol de pênalti e criamos chances para vencer o jogo. A sensação que fica é que poderíamos ter vencido, criamos mais oportunidades e não conseguimos”, disse Abel, como se não fosse obrigação ter mais chances de gol do que o Avaí.
Para jogarem juntos, como titulares, Breno Lopes, Rafael Navarro e Wesley, é porque o pensamento de Abel Ferreira estava na partida contra o Cerro Porteño, no Paraguai, pelas oitavas da Libertadores, que será muito mais importante do que o jogo em Santa Catarina.
Mas há adversários no Brasileiro contra os quais a vitória é obrigatória, para quem busca o título inédito, como é o caso do treinador português. O Avaí é um deles.
Abel ainda defendeu o indefensável. Rafael Navarro.
O atacante perdeu um gol inacreditável, cara a cara com o goleiro Cesar, Avaí. E chutou por cima. Não é por acaso que o clube contratou dois novos atacantes, o uruguaio Merentiel e o argentino José Manuel López.
O treinador explicou a opção por Navarro, que teve, outra vez, desempenho pífio.
“O Navarro é um jogador mais de apoio, o Rony tem mais profundidade. Começamos com o Navarro por diversas razões, temos que fazer gestão de energia para jogar na máxima força. O Rony tem vindo de muito desgaste, mas são jogadores um de mais apoio e outro de mobilidade, ataque de profundidade.”
E, como última desculpa para os pontos desperdiçados, o calendário brasileiro. Que é absurdo. Mas também é o mesmo para o Atlético Mineiro e Flamengo, seus dois maiores rivais.
“(Diante do calendário brasileiro) Sou religioso e rezo. Pela quantidade de jogos que há, só rezo. Vocês (jornalistas) estão vendo a quantidade de jogadores lesionados em jogos do Flamengo, Atlético-MG, Corinthians…
“Não sou mágico, só peço para ter saúde. Não peço para nos ajudar no jogo porque Deus não se mete no jogo, mas que nos dê saúde para jogar. Não sei qual será o futuro, sei que temos uma série de jogos decisivos com dois dias de intervalo. Isso só acontece em um lugar no mundo, talvez os outros lugares estejam errados”, ironizou, irritadíssimo…
Fonte: R7