Jorge Teixeira da Silva Neto, de 2 anos, morreu com sinais de violência sexual; defesa da mãe da criança não vai solicitar pedido de liberdade provisória
A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a morte do menino Jorge Teixeira da Silva Neto, de 2 anos, morto com sinais de estupro e tortura em Vila Velha no dia 5 de julho, e indiciou os pais, Maycon Cruz, de 35 anos, e Jeorgia Karolina Teixeira da Silva, de 31, por homicídio qualificado e estupro de vulnerável. Os dois permanecem presos desde o dia 6 de julho, suspeitos de serem os autores do crime.
Agora, o caso será encaminhado para o Fórum Criminal de Vila Velha e deverá ser analisado em um prazo de 10 dias já que a prisão de Cruz e Jeorgia foram feitas em flagrante.
Após a análise, o Ministério Público Estadual do Espírito Santo (MPES) pode decidir em acusar formalmente o casal, pedir novas diligências ou optar pelo arquivamento do inquérito. Caso o MPES acuse os pais da vítima, o pedido de denúncia irá para a Justiça, que adotará os trâmites para instaurar um julgamento no tempo em que achar conveniente.
Na semana passada, o delegado Alan Moreno, que investiga o caso, falou que exames foram feitos em um laboratório forense da Polícia Civil. Foram identificados sêmen e sangue humano nas roupas da criança e também dos pais. O delegado solicitou exames médicos dos envolvidos para fazer comparações.
Na última quinta-feira (14), o pai da vítima esteve no Departamento Médico Legal, em Vitória, mas não aceitou fazer os exames que poderiam comprovar se o material genético e o sangue encontrados nas roupas do garoto pertencem a ele.
“Ele está no direito dele. Diante da recusa, iremos acionar a Justiça”, explicou o delegado. Mais de 15 pessoas foram ouvidas pelo delegado durante as investigações, entre elas, médicos que atenderam a criança e um líder religioso. Segundo o delegado, o religioso descartou que houve algum ritual místico utilizando o corpo da criança.
Defesa de Jeorgia não fará pedido de liberdade provisória
Segundo Carlos Bermudes, o advogado criminalista que atua na defesa de Jeorgia Karolina, não será feito pedido de liberdade provisória. Ela permanece presa no Centro Prisional Feminino de Cariacica.
“Ela permanece presa e assim continuará. Importante destacar que nós não vamos fazer nenhum pedido de liberdade para ela, neste momento, enquanto nós não tivermos maiores detalhes e maiores esclarecimentos”, informou.
Ele disse que prefere aguardar a decisão do Ministério Público Estadual para decidir qual será a linha de defesa.
“Fizemos pedidos de quebra de sigilo telefônico, telemático, pedimos que fosse oficiado a Uber para saber a localização dela, pedimos quebra de sigilo bancário e uma série de requerimento, oitivas de testemunhas. Mas, por conta do prazo que o delegado tinha para concluir o inquérito, nem todas as diligências foram atendidas. Vamos reiterar esses pedidos junto à Justiça para que nossos pedidos sejam cumpridos”, acrescentou.
Maycon Cruz está preso no Centro de Detenção Provisória de Viana. Sua defesa não foi localizada. O espaço está aberto para manifestação.
Relembre o caso
Jorge Teixeira da Silva Neto, de 2 anos e 8 meses, foi internado no Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, mas acabou morrendo.
Os pais do menino foram presos e autuados pelos crimes de estupro de vulnerável com resultado morte e tortura.
Segundo as primeiras informações da Polícia Civil, a criança apresentava sinais de violência física e sexual, que foram detectados pelos profissionais de saúde do hospital.
Em coletiva de imprensa realizada no dia 06 de julho, o delegado adjunto da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, Alan Moreno de Andrade, informou que os pais da vítima, Maycon Milagre da Cruz, de 35 anos, e Jeorgia Karolina Teixeira da Silva, de 31 anos, passaram 12 horas depondo.
Durante o depoimento, um diálogo foi encontrado pela polícia em um aplicativo de mensagens. Nele, o pai teria comentado com a esposa sobre o boletim de ocorrência registrado enquanto Jorge ainda estava hospitalizado:
“Sobre o boletim que você fez, precisamos sentar e conversar, pois podemos ter deixado algo passar despercebido”, comentou o pai.
O documento foi registrado após o momento em que uma médica do Himaba informou à mãe que a criança poderia ter sido estuprada. Outro aspecto que chamou atenção, durante o depoimento, foi a falta de consternação dos pais.
“Desde quando chegaram à delegacia, e ficaram lá das 16h até 5h da manhã, não demonstraram tristeza com a morte do filho, nem emoção. No máximo, um leve choro. Não se olhavam e não conversavam entre si. Negam veementemente que praticaram as lesões e afirmam que, no domingo à noite, a criança dormiu com um pequeno machucado na virilha e que no outro dia acordou daquele jeito”, disse o delegado.
Segundo a autoridade policial, na casa da família foram recolhidos vários objetos religiosos, “que não são de praxe das pessoas”. Questionado, o pai negou a presença de objetos assim na casa, mesmo tendo sido encontrados pela perícia.
O que disse o médico legista
Em entrevista coletiva, o médico legista Josias Rodrigues Westphal também comentou o caso.
“O corpo foi encaminhado ao DML devido à suspeitas de maus-tratos. Já no exame físico externo, encontramos muitas lesões sugestivas. Algumas por queimadura, algumas equimoses também, possivelmente por trauma de pancada; abrindo as cavidades, outras lesões foram vistas, além do ânus dilacerado. A laceração foi no ânus, no reto e no canal anal, por aplicação de objeto dentro do ânus, que pode até ter sido um pênis, além de objeto. Saberemos com o exame, que deve ficar pronto em 15 dias. Caso haja espermatozóide, confirmaria o pênis. Existiam fezes na cavidade abdominal, o que gerou infecção”, disse o especialista.
Fonte: Folha Vitória