O ataque ocorreu um dia após a assinatura de um acordo para liberar grãos ucranianos bloqueados nos portos ucranianos
A Rússia afirmou neste domingo, 24, que seu ataque com mísseis no sábado ao Porto de Odessa, vital para a exportação de grãos ucranianos, destruiu armas ocidentais entregues ao seu inimigo, ao responder à indignação da Ucrânia e seus aliados.
O ataque ocorreu um dia após a assinatura de um acordo para liberar grãos ucranianos bloqueados nos portos ucranianos.
“Os mísseis Kalibr destruíram a infraestrutura militar com um ataque de alta precisão”, escreveu a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, em sua conta no Telegram. Segundo ela, os mísseis destruíram, entre outros alvos, um “barco militar rápido” ucraniano, sem dar detalhes.
“No porto da cidade de Odessa, mísseis de longo alcance de alta precisão destruíram um navio de guerra ucraniano ancorado e um armazém com mísseis antinavio Harpoon fornecidos pelos EUA ao regime de Kiev”, corroborou o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.
RISCO
Após esses ataques contra Odessa, a Ucrânia acusou o presidente russo, Vladimir Putin, de “cuspir na cara” da ONU e da Turquia, e colocar em risco o acordo assinado na sexta-feira em Istambul – sob a mediação da organização internacional e de Ancara – para a retomada do transporte de grãos ucranianos por mar em corredores seguros de três portos ucranianos do Mar Negro: Odessa, Chernomorsk e Iuzhni.
Até 20 milhões de toneladas de trigo e outros grãos estão bloqueados nos portos ucranianos, especialmente Odessa, por navios de guerra russos e minas colocadas por Kiev para evitar um ataque anfíbio.
Autoridades ucranianas disseram que havia grãos armazenados no porto no momento do ataque no sábado, mas os armazéns não foram afetados.
DESCONFIANÇA
No sábado, a Rússia havia negado à Turquia que estivesse envolvida nos ataques. Após o ataque, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, afirmou que o diálogo com o Kremlin era cada vez mais insustentável e a capacidade de Moscou de cumprir suas promessas não era confiável. Não está claro como o ataque aéreo pode afetar o acordo. A retomada dessas exportações foi decidida entre Rússia e a Ucrânia, em acordos assinados separadamente na sexta-feira com a ONU e a Turquia com o objetivo de abrir caminho para o embarque de milhões de toneladas de grãos ucranianos retidos desde o início da guerra, bem como a exportação de fertilizantes russos.
O acordo comprometia Kiev e Moscou a se abster de bombardeios a estruturas e navios ligados à exportação de alimentos nos três portos do Mar Negro. Nenhum cessar-fogo amplo foi negociado, mas ataques perto dos navios ou nos portos que eles usam – como os realizados pela Rússia no sábado – têm o potencial de colocar o acordo em risco.
O ministro da Agricultura da Ucrânia, Mikola Solski, disse no sábado que a Ucrânia procederá como se o acordo de grãos continuasse em vigor.
Em visita à África, o chanceler russo, Serguei Lavrov, deixou claro que usará a viagem para tentar culpar o Ocidente pela escassez de alimentos nos países africanos e pintar a Rússia como fiel aliada do continente. Lavrov procurou tranquilizar seus parceiros sobre o futuro das exportações de grãos. Após uma reunião com seu homólogo egípcio Sameh Shukri no Cairo, Lavrov reiterou “o compromisso dos exportadores russos de cereais de respeitar todas as suas obrigações”.
Governos na África e no Oriente Médio estão entre a Rússia e o Ocidente desde o início da guerra na Ucrânia, enfrentando pressão ocidental para manifestar sua desaprovação à invasão enquanto buscam manter o acesso aos grãos russos e outras exportações.
Aliados ocidentais fizeram um esforço conjunto para evitar que esses governos se aproximassem demais da Rússia, aplicando pressão diplomática para persuadi-los a votar a favor de uma resolução da ONU.
No mês passado, o chefe da União Africana, o presidente Macky Sall do Senegal, se encontrou com Putin e implorou que liberasse os grãos ucranianos, mas ele também ecoou o argumento de Moscou de que as sanções ocidentais pioraram a crise alimentar na África e no mundo. (Com agências internacionais).
Fonte: O Estado de S. Paulo.