Tudo começou pela fase de ideação, em que o garoto conversava por chats com colegas com intenções semelhantes, ou seja, de matar pessoas na escola onde estudaram

Depois da denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) ter revelado que Henrique Lira Trad, responsável por invasão à Escola Municipal de Ensino Fundamental Eber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, em Vitória, no dia 19 de agosto, planejava o ataque desde 2019, também ficou claro o exato modo como o suspeito agiu, intimidando colaboradores e até crianças.

Tudo começou pela fase de ideação, em que o garoto, à época menor de idade, conversava por chats com colegas com intenções semelhantes, ou seja, de atacar e matar pessoas na escola onde estudaram.

Entenda o passo a passo:

1. Henrique usava chats com demais jovens na “dark web”, setor ainda mais obscuro da “deep web”, que corresponde à parte não indexada da rede mundial de computadores, ou seja, inacessível de maneira geral por meio de navegadores à população em geral;
2. Com o tempo, ele passou a se dedicar à preparação do que seria um massacre à escola Eber Louzada Zippinotti, tendo encontrado na internet o ambiente propício para o amadurecimento da idealização criminosa, aprofundando temas como armas, racismo, nazismo, atentados, morte, bem como à chacina ocorrida na Escola Estadual de Suzano/SP;
3. Já em agosto, logo antes do ataque em Jardim da Penha, o suspeito passou horas jogando um game chamado “Morimyia Middle School Shooting”, que é uma espécie de suspense policial em que o jogador controla uma garota que porta armas e atira em uma escola;
4. Henrique se vestiu completamente de preto;
5. O jovem então coletou as armas que seriam usadas: três bestas, uma faca grande, seis facas ninja, 57 dardos e flechas, três garrafas de coquetel molotov e uma outra com líquido inflamável, isqueiro, fósforo, luvas, máscara personalizada, além do cadeado utilizado para “trancar” a escola e evitar o socorro às potenciais vítimas.
6. Depois de tudo, solicitou um carro de aplicativo, e se dirigiu ao Eber Louzada;
7. Na instituição de ensino, o jovem tentou enganar o porteiro, dizendo que iria a uma reunião. Como foi barrado, acabou pulando o muro da escola;
8. Dentro da instituição de ensino, tentou se dirigir à coordenadora, a quem já planejava matar. Apesar de ter tentado disparar contra ela, a arma falhou. Ela e outro colaborador presente na sala dos professores conseguiram fechar a porta, a qual ele não mais conseguiu abrir, mesmo chutando;
9. Ainda no primeiro andar, o denunciado atirou contra um prestador de serviços do colégio que estava no local, mas errou a mira e o disparo atingiu o muro. Foi então que Henrique foi até o segundo andar, tentar atirar contra crianças;
10. No local, encontrou um menino de dez anos e o ameaçou com uma besta. Apesar disso, a criança conseguiu chutar o objeto, momento em que Henrique o arranhou;
11. Trad se dirigiu até uma sala de aula, mirou e atirou com a besta contra uma professora, atingindo a colaboradora na perna. Em seguida, mirou e atirou contra uma aluna de dez anos de idade, mas novamente o armamento “falhou”;
12. Após novas tentativas, um professor conseguiu finalmente imobilizar o suspeito até a chegada da Polícia Militar. Foi aí que confessou a intenção de matar o máximo de pessoas possível e depois ser morto pelos agentes;

Com o caso esclarecido, com base em dados do computador utilizado pelo jovem, na denúncia, o MPES afirmou que o crime foi praticado por motivo torpe, após suposto bullying sofrido pelo denunciado na escola enquanto era aluno.

bullying, pelo que se sabe até o momento, desencadeou desejo de vingança no jovem, nutrido pela admiração a ataques terroristas, massacres, “razão moral e socialmente desprezível para tentar contra a vida das vítimas que em nada tinham relação com os fatos apontados pelo réu para justificativa de seus atos covardes”, informou a denúncia.

Ao final da denúncia, o MP também solicitou a manutenção da prisão preventiva do suspeito, bem como que seja encaminhada cópia do documento à Justiça Federal, competente para processamento e julgamento dos crimes previstos na Lei Antiterrorismo.

No momento, Henrique Lira Trad segue preso no Centro de Detenção Provisória de Guarapari, desde o último dia 21 de setembro. A prisão em flagrante do suspeito foi convertida em preventiva no dia 22 de agosto.

Fonte: Folha Vitória