Os números podem ser bem maiores do que se estima, uma vez que os animais de rua não recebem o mesmo tratamento que os cães que têm tutores, muitos infectados morrem e nem viram estatística
A cinomose, uma das doenças virais mais perigosas que afetam cães, tem gerado grande preocupação entre tutores e profissionais veterinários devido ao aumento expressivo de casos em várias regiões do Espírito Santo. Em Anchieta, estima-se que mais de 300 cães morreram entre março e outubro. Em Piúma, o número de casos também é elevado e tem crescido de forma alarmante.
Entre março e outubro, mais de 300 cães morreram em Anchieta devido à cinomose. Somente em uma clínica veterinária, 130 cães com tutores faleceram. De acordo com o veterinário Dr. Weslei Tagarro Deorce, da Nutribichos, o surto começou em março, com pico entre junho e setembro. Durante esse período, cerca de 200 cães foram atendidos na clínica, dos quais 130 não resistiram.
Informações extraoficiais dão conta de que dentro da Gerencia Operacional de Bem-Estar Animal (Goabea), em Anchieta vários animais foram infetados após a cadela Judite ser contaminada com o vírus da doença. E até os dias atuais não se tem mais notícias desta cadela.
Em março 10 cães morreram e nenhum dos que estavam sobre os cuidados da Gobea na época estavam vacinados contra a doença. “Pegaram uma cadela chamada Judite que estava com cinomose. A Mara na época falou para fazer eutanásia no animal que não tinha mais jeito, já estava no estágio três, ia morrer, só que a gerente Ana não deixou matar. Então, não teve jeito, todos os animais lá dentro da gerência pegaram a doença, não estavam vacinados, veio um monte a óbito. A gerente não obedeceu a veterinária e espalhou para todos, quem não estava vacinado morreu”. (Informante não quis e identificar com medo de represálias).
Só após a morte destes animais na Gerencia, que a campanha de vacinação contra a cinomose foi realizada nas redes sociais da página oficial da Gobea, ou seja, no dia 18 de abril porque houve uma cobrança do Ministério Público e muitos animais morreram. “Em um mês morreram em torno de 13 animais, todos com a vacinação atrasada. Depois que iniciaram a vacinação diminuiu as mortes de cães com cinomose na Gerência. Os números são bem maiores e a Zoonose de Anchieta deve ter registrados quantos animais foram encaminhados após contraírem a doença”.
Contradizendo as informações apuradas pelo jornal sobre a cinomose em Anchieta a secretária de Meio Ambiente de Anchieta, Jéssica Martins de Freitas, destacou que os cães abrigados pela Gobea foram imunizados conforme protocolos aprovados pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV).
Oportunamente a Gobea salientou que que não pode atender cães infectados em suas instalações, pois a cinomose é uma doença infectocontagiosa que exige locais específicos, conforme normas do Conselho Federal e Regional de Medicina Veterinária. No entanto, a Gobea realizou entre 20 e 25 atendimentos in loco, em casos de tutores de baixa renda ou ativistas voluntários. Alguns cães tratados sobreviveram, mas outros foram a óbito, sem retorno oficial de informações à gerência.
Os animais da Ong SOS Matilha ficam abrigados em um canil na Reta de Subaia, também na casa de uma das protetoras, em um sítio em Castelhanos, o Canil II e em um terceiro local, (animais que eram do seu Monteiro hoje falecido) que ficam em um prédio desativado da antiga Zoonose, em Nova Jerusalém, não há informação se contraíram a cinomose.
Abrigo em Benevente, Anchieta
Sobre a construção do abrigo no bairro Benevente e, Anchieta trata-se de um abrigo que irá atender aos animais da SOS Matilha que estão abrigados temporariamente, em um galpão locado, e principalmente, em atendimento ao Ministério Público. Além de atender aos animais da entidade, a área do abrigo atenderá a Gerência de Bem Estar para ampliar os atendimentos de saúde e castração de animais errantes. O conceito de canil para apreensão de animais sadios vem sendo abolido pelos conceitos de Bem-Estar Animal. Os canis devem manter sob cuidados apenas os cães já abrigados, realizar abrigo temporário para saúde e castração, e abrigar cães em para situações especiais.
Situação em Piúma
Em Piúma, o cenário também é preocupante. De acordo com uma protetora da ONG Amor Fiel, muitos cães de rua morreram de cinomose, além de animais com tutores que também foram afetados. “Os cães de rua contam com a ajuda de protetores e da sociedade. Salvam-se se puderem”, lamentou.
A secretária de Meio Ambiente de Piúma, Sofia Nogueira, explicou que a ONG Amor Fiel, em parceria com a Secretaria de Assistência Social (Semas), atua em conjunto para atender casos emergenciais. Quando o contrato vigente não é suficiente, a ONG trabalha em parceria com clínicas veterinárias, como a Arca de Noé, para conseguir tratamentos a preços mais acessíveis.
A doença
De acordo com a veterinária Síndia Marambaia, a cinomose é causada pelo vírus da cinomose canina (CDV). Altamente contagiosa, a doença pode ser fatal, especialmente em cães não vacinados. O vírus ataca o sistema imunológico, podendo afetar os sistemas respiratório, digestivo e nervoso.
Cães jovens, idosos ou com imunidade comprometida estão mais suscetíveis, mas qualquer animal não vacinado está em risco. A veterinária ressaltou a importância da vacina ética (importada), que garante alta proteção contra a doença. Já a vacina nacional, apesar de comercializada, não oferece 100% de eficácia.
Os primeiros sinais clínicos surgem após um período de incubação de cerca de 14 dias e incluem secreção ocular e nasal, febre persistente, tosse, dificuldade respiratória, perda de apetite, vômitos e diarreia. Nos casos mais graves, tremores, convulsões e paralisia podem ocorrer.
“É importante lembrar que a cinomose pode ser confundida com outras doenças. Diante de qualquer sintoma, é essencial buscar atendimento veterinário imediatamente”, reforçou Marambaia.
Transmissão e Prevenção
A cinomose é transmitida pelo contato direto com secreções de cães infectados, como saliva, urina e fezes. Objetos e ambientes contaminados também representam riscos. A vacinação é a principal forma de prevenção. A primeira dose deve ser aplicada entre 6 e 8 semanas de vida, com reforços anuais ou conforme orientação veterinária.
Outras medidas preventivas incluem:
- Evitar o contato de filhotes e cães não vacinados com animais de origem desconhecida;
- Manter ambientes limpos e higienizados;
- Monitorar regularmente a saúde dos pets.
Tratamento e Cuidados
Não existe cura específica para a cinomose. O tratamento é voltado para o alívio dos sintomas e o fortalecimento do sistema imunológico do cão. Medidas incluem:
- Controle de febre, vômitos, diarreia e convulsões;
- Suporte nutricional e hidratação;
- Isolamento do animal infectado.
Mesmo com tratamento, muitos cães apresentam sequelas neurológicas permanentes. A recuperação depende da gravidade do caso e da saúde geral do animal.
A urgência da conscientização
A alta incidência de cinomose reflete a baixa adesão à vacinação e a falta de controle sobre a população de animais de rua. Campanhas educativas, vacinação gratuita e políticas de controle populacional são fundamentais para conter os surtos.
Cuidar da saúde do seu pet é um ato de amor e responsabilidade. Procure um veterinário para atualizar as vacinas e proteger o seu amigo de quatro patas dessa grave doença.
Fonte: Espírito Santo Notícias