Para muitos, acompanhar os filhos durante as aulas online por mais de um mês tem sido um grande desafio

A notícia sobre a decisão judicial que permite o retorno das aulas presenciais em todo o Espírito Santo, independente da classificação de risco do município, foi bem recebida por grande parte dos pais dos alunos que estão tendo de assistir às aulas de maneira remota há mais de um mês. O governo do Estado, no entanto, informou que vai recorrer da decisão.

Para a consultora de estilo Renata Cani, que faz parte do Movimento Pais Pela Educação, a educação precisa ser vista como prioridade pelos governantes. Segundo ela, se outras atividades estão sendo autorizadas, as aulas presenciais também precisam ser mantidas.

“Se for para fazer um lockdown, que feche tudo então, como acontece em países de primeiro mundo. Porque não tem sentido liberar o comércio e não permitir a realização das aulas. Todos nós estamos prejudicados, todo mundo conhece pelo menos uma pessoa que já morreu por causa da covid, mas a escola precisa ser a última a fechar e a primeira a abrir”, afirmou.

Outra integrante do Movimento Pais Pela Educação, Bárbara Campos Fernandes, destacou a dificuldade que tem vivido diariamente ao acompanhar os filhos nas aulas online. Segundo ela, o fato de as crianças não poderem frequentar a sala de aula tem causado grandes prejuízos no processo de aprendizado.

“Hoje mesmo foi um dia muito estressante para mim. Meus filhos não conseguiram participar da aula online, estavam muito agitados. Eles têm um laudo neurológico de que não podem ficar muito tempo na frente de uma tela, mas precisam assistir a 4 horas de aula online todos os dias. O fechamento das escolas tem representado uma regressão muito grande para as crianças”, ressaltou.

Na tarde de segunda-feira (19), um grupo de pais de estudantes realizou um protesto em frente à Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), em Vitória, pedindo a volta das aulas presenciais no Estado. Os manifestantes colocaram cadeiras e usaram balões pretos para simbolizar o luto pela educação. Além disso, usaram faixas para protestar e pedir o retorno das aulas.

Ensino remoto

Há mais de um mês os pais estão precisando se desdobrar para ajudar na educação dos filhos, no Espírito Santo. Sem as aulas presenciais, o ensino remoto tem sido um grande desafio e tem exigido uma dedicação extra desses pais e mães.

Na casa da Rafaela Marques, em Vitória, a sala de estar virou sala de estudar. O filho Vitor, de 5 anos, está na educação infantil. A afilhada Antônia, de 10, cursa a 5ª série do ensino fundamental. Os adultos estão sempre por perto na hora da aula remota. 

“Temos várias atividades para fazer, mas a gente também trabalha e tem que dar conta desse novo normal e isso não é nada fácil. Então às vezes eu não consigo fazer tudo que a escola propõe e está tudo bem. Porque se eu achar que isso é um problema, eu vou ficar muito mais nervosa, o pai dele também vai ficar nervoso e a criança vai ficar totalmente perdida no meio disso. Então eu acho que o segredo é não pirar e entender que está tudo bem”.

Já Irlene Ribeiro Felix, que mora em Cariacica, decidiu não trabalhar fora para ter mais tempo disponível. Ela adotou uma rotina com a filha Luiza, e o enteado Victor, ambos de 7 anos. Os dois estudam numa escola da prefeitura, e fazem as atividades remotas no mesmo horário em que costumavam estar na sala de aula.

“Eu tenho tentado criar uma rotina com eles. Tenho feito, todos os dias pela manhã, a atividade com eles, porque é o horário em que eles já estão matriculados e é o horário em que as professoras estão disponíveis para ajudar a gente a tirar dúvidas e tudo mais”.

Hágata Rosa, por sua vez, trabalha o dia inteiro e não pode dar muita atenção aos estudos do filho durante a semana. Bernardo tem 5 anos, estuda na rede pública da Serra, e está em fase de alfabetização.

“As atividades que são enviadas para ele agora que começaram a ensinar as letras. Não é um ensino ruim, mas não se compara quando ele está no presencial.”

A Prefeitura da Serra disse que disponibiliza recursos, como um software pedagógico e atividades impressas, para o desenvolvimento do ensino remoto. Cariacica também dispõe das ferramentas, e ainda, de um canal de TV aberta com sugestões para atividades. Em Vitória, também há uma plataforma digital, e a oferta de material impresso para quem tem dificuldade de acesso à internet.

“Vitória tem trabalhado através da plataforma Aprende Vix, que é uma plataforma onde todas as famílias têm acesso e ali os professores vão colocando propostas de brincadeiras e atividades que vão fazendo com que criança experienciar o mundo “, disse a Secretária de educação vitória, Juliana Roshner.

As aulas presenciais foram suspensas no dia 15 de março, na educação infantil, e em 22 de março nas demais séries. A experiência desafiadora de lidar com a educação das crianças dentro de casa serve de lição para muitas famílias, que estão aprendendo a reconhecer a importância dos professores na vida dos filhos.

Folha: Folha Vitória