Celso Marvila Lima, de 64 anos, era presidente do Jockey Clube. (Jockey Clube/Reprodução)

Jaciele Simoura

Reporter / jsimoura@redegazeta.com.br

No dia 3 de agosto de 2022, o perito criminal aposentado Celso Marvila Lima, na época com 64 anos, desapareceu. As investigações concluíram que ele foi assassinado e quatro pessoas foram presas. No entanto, até o momento, o corpo de Marvila não foi encontrado. Neste sábado (3), o caso completa dois anos.

Polícia Civil informou que Inquérito Policial foi concluído em dezembro de 2022. As buscas pelo corpo de Marvila foram encerradas, entretanto, segundo a corporação, podem ser retomadas caso surjam novas informações que indiquem a localização dos restos mortais.

A corporação ressaltou que qualquer pessoa que tenha informações pode ajudar por meio de denúncias anônimas no Disque-Denúncia 181.

Celson Marvila Lima trabalhou por 42 anos na Polícia Civil e se aposentou em 2020. Quando desapareceu, ele era presidente do Jockey Clube do Espírito Santo, localizado em Itaparica, Vila Velha.

Desaparecimento

Na data do desaparecimento, Marvila passou o dia no clube. O veículo da vítima, um Mitsubishi L200 4×4, foi encontrado incendiado na manhã do dia 4 de agosto, em uma estrada de chão em Xuri, Vila Velha. Foram moradores da região que passaram na noite anterior e viram a caminhonete pegando fogo.

No interior da caminhonete, a perícia encontrou um celular bastante avariado. Não foi informado, todavia, se o aparelho pertencia ao aposentado nem se foi possível recuperar algum material que ajudasse nas investigações.

Investigações

Vila Velha

O anel de ouro utilizado pelo perito foi derretido e dele foi produzido um cordão, apreendido com um dos suspeitos. (Divulgação/Polícia Civil)

Desde o desaparecimento, a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros trabalharam nas buscas pelo corpo do perito no terreno do bairro Jockey de Itaparica. As ações tiveram apoio da equipe de buscas com cães K9 e com máquinas de escavação.

As investigações da Polícia Civil concluíram que Celso Marvila foi assassinado dentro do Jockey Clube. O delegado Tarik Souki, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, contou em coletiva de imprensa realizada em dezembro de 2022, que o perito aposentado foi capturado e morto em um pavilhão cuidado por um dos suspeitos.

O que aconteceu no dia do desaparecimento?

De acordo com o delegado Tarik, o perito aposentado Celso Marvila foi morto no dia 3 de agosto de 2022, entre 17h e 18h30. Isso porque, às 17 horas, três funcionários viram a vítima pela última vez e, às 18h46, o carro de Marvila sai do Jockey Clube e é levado até o local onde foi encontrado incendiado.

A Polícia Civil acredita que, nesse meio tempo, a vítima foi capturada e morta em um dos pavilhões que fica na parte mais baixa do Jockey Clube.

Por imagens de videomonitoramento de um shopping que fica próximo do local, a polícia descobre que às 18h39 o carro da vítima é levado até esse pavilhão. Nesse tempo, o carro de outro comparsa estaciona e fica por cerca de cinco minutos. Em seguida, sai acompanhado do carro de Marvila.

Conforme apontado pelas investigações que analisaram mais de 300 horas de imagens de videomonitoramento, o corpo do perito deve ter sido levado por outro veículo até um local – ainda não identificado – diferente de onde a caminhonete da vítima foi achada incendiada, no dia 4 de agosto.

Segundo o delegado Tarik Souki, das seis pessoas apontadas como envolvidas no crime, cinco estavam no local e no mesmo horário do crime no Jockey Clube.

Apesar de ser difícil determinar o que cada um fez, por falta de confissões, de acordo com investigações, a polícia conseguiu determinar que dos cinco que estavam no local, três deles participaram diretamente na execução e eliminação dos vestígios.

Motivação

Marvila, que era presidente do Jockey Clube há cerca de um ano, passou a suspender títulos de inadimplentes e de outros sócios, pois o local estava em processo de venda de algumas áreas por valores milionários.

De acordo com o titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, delegado Tarik Souki, o Jockey Clube já havia vendido a parte dos fundos por R$ 40 milhões e estava em processo para venda da parte da frente, pelo valor de aproximadamente R$ 140 milhões.

“Quem estava encabeçando a venda era o Celso Marvila. Ele deu início a uma cassação de títulos, onde vários foram cancelados, inclusive de uma determinada pessoa, que era muito amigo do Marvila. Ali surgiu a desavença. Era notória a desavença, ocorreram ameaças e diversas situações que fizeram com que as pessoas soubessem dessa desavença”, explicou o delegado.

Quem são os suspeitos dos crime?

A pessoa citada pelo delegado seria o sargento do Corpo de Bombeiros, Wenos Francisco dos Anjos, conforme A Gazeta apurou. Ele estava no Jockey Clube no dia que o perito foi morto, junto a outros suspeitos. A Polícia Civil explicou a relação entre os detidos e qual teria sido a participação de cada um no homicídio, cuja execução teria tido o envolvimento direto de três pessoas, incluindo um bombeiro e um policial.

Ao todo, seis pessoas chegaram ser presas suspeitas de envolvimento no crime, sendo que quatro delas tiveram denúncia oferecida pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e respondem por participação no desaparecimento do perito.

  • Wenos Francisco dos Anjos, de 44 anos: sargento do Corpo de Bombeiros, é apontado como o “cabeça” do crime e quem não recebeu parte do dinheiro pelas vendas feitas pela vítima, sendo um dos executores. Ele está preso no Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar; 
  • Milton Cândido da Silva Filho, de 40 anos: um dos gerentes do Jockey Clube, que era bastante próximo de Wenos, e também teria participado da execução. Preso no Centro de Detenção Provisória de Vila Velha (CDPVV);
  • Lucas dos Santos Lage, de 35 anos: policial militar reformado que era parceiro do sargento e também seria um dos executores. Preso no Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar;  
  • Wesley Francisco dos Anjos, de 49 anos: irmão do sargento e sócio do Jockey Clube, que não gostava da administração de Celso Marvila. Se encontra preso no Centro de Detenção Provisória de Vila Velha (CDPVV). 

Relação dos envolvidos

O sargento do Corpo de Bombeiros, Wenos Francisco dos Anjos, era quem tinha a maior desavença por conta da suspensão de títulos do Jockey Clube. O irmão dele, Wesley Francisco dos Anjos, também era sócio do local e não estava satisfeito com a administração de Marvila. O soldado Lucas dos Santos Lage apenas participou por ser muito amigo dos irmãos.

O gerente do Jockey Clube, Milton Candido da Silva Filho, também era muito próximo do sargento. Sem as confissões dos envolvidos, a Polícia Civil não conseguiu informações que apontem a premeditação do crime. O que se sabe é que já havia uma desavença anterior

Ainda em dezembro de 2022, quando a Polícia Civil divulgou detalhes das investigações, o titular da DHPP Vila Velha, delegado Tarik Souki, afirmou que não restam dúvidas que o perito aposentado Celso Marvila foi assassinado. Ele explica que os suspeitos usaram métodos antigos para cometer o crime.

A espera de uma família

Celso Marvila Lima Júnior luta para que os responsáveis pela morte do pai sejam condenados

Celso Marvila Lima Júnior luta para que os responsáveis pela morte do pai sejam condenados. (Acervo Pessoal )

Para a família do perito aposentado, são dois anos de muita dor e espera. Isso porque sem um corpo, não é possível realizar um enterro. 

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Tem sido tudo muito difícil para mim e minha família. Além de não dar um enterro digno para o meu pai, não podemos dar andamento de nada sem a certidão de óbito. Tudo muito complicado

Celso Marvila Lima Júnior

•Filho de Celso Marvila

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Segundo Celso Marvila Júnior, a família luta para que o caso não caia no esquecimento. “Queria muito que fosse encontrado algo, para termos esse ciclo fechado e a cabeça dos familiares ficar um pouco mais tranquila”, relatou. 

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Que a justiça do assassinato do meu pai seja realmente feita. Desde sempre, para sempre, minha base. A minha saudade tem nome, o meu sobrenome e me protege lá do céu. Pai

Celso Marvila Lima Júnior

•Filho da vítima

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Celso Marvila com o filho Celso Marvila Lima Júnior

Celso Marvila com o filho Celso Marvila Lima Júnior. (Acervo Pessoal)

Busca pela certidão de óbito

Sobre a certidão de óbito, que a família de Marvila reivindica, o advogado Felippe Ribeiro Martins, que atua na área criminal,  explicou como é o processo. Em casos assim, onde não há corpo, é tratado como morte presumida. Segundo a legislação brasileira, existem dois tipos de morte presumida. A primeira hipótese é quando o indivíduo de fato desaparece, se ausenta sem ninguém saber a motivação, nesse caso a justiça, após algum tempo, decreta a ausência do indivíduo e nomeia um curador.

“Já a segunda, que se encaixaria melhor no presente caso, se dá quando for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida, nesse caso a declaração da morte presumida somente poderá ser requerida após esgotar todas as buscas, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. A partir disso será possível emitir a certidão de óbito”, explicou o advogado. 

Fonte: A Gazeta