Tragédia, desinformação, chuvas e outras adversidades colocaram cidade turística do sudoeste mineiro em cenário crítico
O primeiro semestre de 2022 foi um período turbulento para a população de Capitólio. Com a economia baseada principalmente no turismo, o município do sudoeste mineiro passou por consecutivas adversidades que atrapalharam o movimento de visitantes. Entre elas, o acidente que vitimou dez pessoas após o desabamento de uma rocha, em 8 de janeiro.
Para além das dez vidas perdidas, trauma incalculável aos familiares das vítimas e aos habitantes, a cidade cujo principal sustento vem do turismo viveu meses de apreensão com o baixo movimento de visitantes na cidade. Em tentativa de recuperação econômica após as baixas pela pandemia de Covid-19, o setor sofreu forte impacto com a tragédia e, depois, com as fortes chuvas em fevereiro.
Erroneamente, ainda se divulgou em redes sociais e outras mídias, nas semanas seguintes ao desabamento da rocha no Lago de Furnas, a informação de que todas as atrações da cidade fechariam devido à tragédia, e não somente os trechos dos cânions. Esses últimos, de fato, permaneceram interditados até o fim de março. Tudo isso ocorreu no verão, época em que os turistas mais procuram pela região.
A estimativa das secretarias de turismo de Capitólio e do estado de Minas Gerais é que, no início do ano, a rede hoteleira da cidade esteve com 20% de ocupação, com leve recuperação até maio, quando chegou a 50%.
O cenário crítico e desinformação fizeram com que o movimento em janeiro fosse muito baixo, lembra o secretário de turismo do município, Lucas Arantes.
“Tivemos muitos cancelamentos na primeira semana depois do acidente, e ficamos alguns dias sem reservas imediatas e futuras, praticamente. Com o passar do tempo, as informações foram chegando, mais corretas. E a realidade mudou um pouco: as pessoas voltaram a procurar Capitólio. Com as ações que fomos fazendo, o turista foi voltando”, diz Arantes.
Como o aeroporto mais próximo fica em Ribeirão Preto (SP), a 238 quilômetros dali, e, portanto, uma grande parcela dos turistas se desloca ao destino de carro, até a alta nos combustíveis influenciou na menor procura pelas atrações da região, cita o secretário.
Na ponta desse problema, as consequentes quedas de faturamento ocasionaram cortes em quadros de funcionários, comentam Arantes e empresários da região, embora seja difícil correlacionar, em estatísticas, o desemprego ao acidente ou outro fato em si, uma vez que o país já vive uma crise ecônomica.
Leônidas Oliveira, responsável pelo turismo no estado de Minas, comenta que o impacto midiático teve grande influência na queda do movimento.
“Para voltar a explicar às pessoas que o lugar está seguro é um problema gigantesco. Precisa reposicionar, muita promoção, e realmente trabalhando na segurança, para não vender algo que não temos. É uma recuperação lenta porque optamos antes de lançar campanhas que tivesse um processo para chegar ao reposicionamento do destino”, considera.
Empresários ligados ao turismo na cidade conversaram com a reportagem do R7, e relataram, em consonância, que os primeiros meses de 2022 foram muito difíceis.
Proprietário de uma empresa que realiza passeios no parque Canela de Ema, Adriano Leonel relata que abriu o negócio pouco antes da pandemia, o que já havia lhe afetado com os fechamentos em decorrência da Covid-19.
“O movimento estava começando a voltar quando houve o acidente. Em um primeiro momento, logo após o acidente, a procura caiu muito, cerca de 80%. As pessoas ligavam muito Capitólio aos cânions e acredito que imaginavam que encontrariam todos os atrativos fechados na cidade”, afirma Leonel, que cita que o acidente afetou toda a cidade de modo geral.
Guia turístico em uma das atrações da cidade, Lucas Henrique lembra que, desde o acidente, muitos empresários tiveram dificuldades, mas conseguiram se manter. Outros tiveram de fechar as portas por falta de condição. “A cidade foi, sim, prejudicada mas temos que agradecer só por estarmos recebendo as pessoas”, diz o jovem de 21 anos.
Gerente geral de um tradicional hotel da cidade, Antônio Célio Soares, o Celinho, encontrou um cenário parecido: o movimento já estava fraco devido à pandemia e teve uma redução após o acidente, sobretudo entre idosos, mais receosos, de acordo com ele, com as notícias da tragédia. No caso do hotel, porém, a queda foi menos acentuada.
Isso porque, segundo Celinho, 75% dos hóspedes são antigos, e em muitos casos não vão ali para procurar pelos atrativos da cidade, mas descansar e aproveitar o local. Em geral, pondera, está tudo normal: os fins de semana são de lotação, e de segunda a sexta-feira a ocupação é expressivamente menor.
“Acho que, nesse caso, mais em função da pandemia. Mas vemos que, na cidade como um todo, a queda foi grande. O pessoal das pequenas pousadas e restaurantes tem reclamado muito sobre a queda no movimento. Pessoal que faz passeio náutico, também”, comenta ele.
Expectativa de melhora no verão
À medida que as dúvidas sobre os passeios foram sanadas, e os cânions operam com novos protocolos de segurança, a expectativa na cidade é de que o movimento volte à normalidade, sobretudo com o início do verão.
Como os meses entre junho e agosto são de frio na cidade, a espera é de que entre setembro e dezembro a procura aumente expressivamente, segundo Leônidas Oliveira.
As procuras para o segundo semestre na empresa de Adriano Leonel têm sido boas, relata o empresário: “Acredito que teremos um verão excelente, com procura semelhante ao período pré-pandemia. Vivemos do turismo e o turismo de Capitólio merece ser vivido pelas pessoas. O lugar é especial, com uma beleza que impressiona.”
Celinho cita os movimentos para reposicionamento de imagem da cidade, a fim de melhorar a visibilidade dos atrativos turísticos “para que que vejam que aqui é seguro e tem muitas belezas”. “Tem quem ache que aqui é só o turismo náutico, mas não”, comenta.
Turismo é o carro-chefe da economia na cidade
Com mais de 30 atrativos, dos passeios de lancha, cachoeiras e balonismo à gastronomia e à cultura, Capitólio tem no turismo a principal força de sua economia.
À parte do turismo, setores como a agropecuária, o comércio, a construção civil serviços compõem os recursos locais.
Segundo Lucas Arantes, 30% das empresas e 33% dos empregos na cidade estão diretamente ligados ao turismo.
“Calculamos que esse número deve dobrar quando levamos em conta as atividades de apoio à essas atividades, como padarias, supermercados, lavanderias”, comenta.
Fonte: R7