Na Bélgica, a polícia tirou das ruas pôsteres com cartuns retratando o profeta. Em Bangladesh, houve protestos por boicote a produtos franceses

Conflitos envolvendo charges de Maomé se espalharam para mais países muçulmanos e europeus nesta terça (27), além de França e Turquia, que trocaram ataques nos últimos dias.

Na Bélgica, a polícia tirou das ruas pôsteres com cartuns retratando o profeta. Em Bangladesh, houve protestos por boicote a produtos franceses, depois de o presidente Emmanuel Macron declarar que manterá a defesa desses mesmos cartuns, porque o Estado laico é base da sociedade francesa.

Na segunda (26), discursos pró-boicote semelhante foram promovidos em outros países muçulmanos, inclusive pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que foi advertido nesta terça pela União Europeia de que a medida fere o tratado de livre comércio com o bloco.

Erdogan, por sua vez, abriu processo contra um político holandês devido a uma charge, não de Maomé, mas do próprio Erdogan, publicada em rede social.

Cartazes com caricaturas do profeta feitas pelo francês Charb -uma das vítimas do ataque terrorista à revista satírica francesa Charlie Hebdo em 2015- foram espalhados por muros de Bruxelas na semana passada em homenagem ao professor francês Samuel Paty, decapitado na França após mostrar os desenhos a alunos em aula sobre liberdade de expressão.

O crime intensificou declarações de Macron de que é preciso combater a radicalização islâmica, detonando reações anti-França em países muçulmanos. O extremismo é também uma preocupação em Bruxelas, onde cresceram alguns dos terroristas que agiram na Bélgica e na França.

Em abril, a morte de um jovem de origem árabe por policiais provocou passeatas em bairros que concentram muitos muçulmanos, como Anderlecht e Molenbeek, e cartazes com seu nome marcaram as manifestações do Black Lives Matter na capital belga.

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Ana Estela de Sousa Pinto
Bruxelas, Bélgica

Conflitos envolvendo charges de Maomé se espalharam para mais países muçulmanos e europeus nesta terça (27), além de França e Turquia, que trocaram ataques nos últimos dias.PUBLICIDADE

Na Bélgica, a polícia tirou das ruas pôsteres com cartuns retratando o profeta. Em Bangladesh, houve protestos por boicote a produtos franceses, depois de o presidente Emmanuel Macron declarar que manterá a defesa desses mesmos cartuns, porque o Estado laico é base da sociedade francesa.

Na segunda (26), discursos pró-boicote semelhante foram promovidos em outros países muçulmanos, inclusive pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que foi advertido nesta terça pela União Europeia de que a medida fere o tratado de livre comércio com o bloco.CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Erdogan, por sua vez, abriu processo contra um político holandês devido a uma charge, não de Maomé, mas do próprio Erdogan, publicada em rede social.

Cartazes com caricaturas do profeta feitas pelo francês Charb -uma das vítimas do ataque terrorista à revista satírica francesa Charlie Hebdo em 2015- foram espalhados por muros de Bruxelas na semana passada em homenagem ao professor francês Samuel Paty, decapitado na França após mostrar os desenhos a alunos em aula sobre liberdade de expressão.

O crime intensificou declarações de Macron de que é preciso combater a radicalização islâmica, detonando reações anti-França em países muçulmanos. O extremismo é também uma preocupação em Bruxelas, onde cresceram alguns dos terroristas que agiram na Bélgica e na França.

Em abril, a morte de um jovem de origem árabe por policiais provocou passeatas em bairros que concentram muitos muçulmanos, como Anderlecht e Molenbeek, e cartazes com seu nome marcaram as manifestações do Black Lives Matter na capital belga.CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Em maio, a administração do distrito de Molenbeek promoveu uma campanha pelos “ideais europeus”, como parte do programa de prevenção à radicalização islâmica, mas houve novos protestos após uma lei proibir o uso de véus islâmicos em universidades.

O porta-voz da polícia de Bruxelas afirmou que a ação desta terça, de retirar os cartazes, não era censura ao direito de expressão. “As caricaturas em si não são puníveis; a infração é a afixação ilegal”, afirmou, embora outros pôsteres colados irregularmente na cidade não tenham sido retirados na operação.

A polícia declarou também que ficaria alerta e que pessoas flagradas colando cartazes nas paredes, independentemente do teor, poderiam ser multadas.

A ação policial irritou alguns moradores da região. “Custo a crer que a polícia de Bruxelas agirá como uma espécie de polícia religiosa de estilo muçulmano. Qual é a maior piada, Maomé ou a polícia de Bruxelas?”, escreveu na internet, um deles, Pieter Senesael.

A permissão à exposição de caricaturas do profeta fundador do islamismo detonou protestos em diversos países de maioria muçulmana. Em Bangladesh, nesta terça, cerca de 40 mil pessoas tentaram chegar à embaixada francesa em Daca, mas foram impedidas, segundo a polícia.

Os manifestantes, que queimaram imagens de Macron, gritavam por boicotes a produtos franceses, seguindo movimento dos dias anteriores na Arábia Saudita, no Kuwait e no Qatar.

Nesta segunda, Erdogan foi à TV pedir a mesma atitude aos turcos, o que provocou reação da Comissão Europeia, Poder Executivo da União Europeia.

“Os acordos da UE com a Turquia preveem o livre comércio. Pedidos de boicote aos produtos de qualquer Estado membro são contrários ao espírito das obrigações com as quais a Turquia se comprometeu nesses tratados e afastarão ainda mais o país da União Europeia”, afirmou um porta-voz da Comissão.

Erdogan, que havia dito no sábado que Macron precisava de tratamento mental, anunciou nesta terça um processo contra o parlamentar holandês de extrema direita Geert Wilders devido a uma caricatura em que o presidente turco é retratado como um terrorista.

No desenho, publicado em rede social no sábado, o líder turco aparece com um chapéu em forma de bomba. Segundo a agência de notícias estatal turca, Wilders será processado por “insultar o presidente”, um crime de acordo com as leis do país.

Levantamento da agência turca BirGün publicado em setembro mostra que houve 36 mil investigações por insulto a Erdogan em um ano e 12 mil pessoas foram julgadas, entre as quais 308 crianças. Foram condenados 3.831 réus.

Fonte: Folhapress