Envio de itens pelo correio sem o consentimento do destinatário é estratégia para melhorar reputação de lojas online a partir de avaliações falsas
Sementes recebidas pelo correio faz parte de fraude para impulsionar lojas online
A fraude chamada de “brushing” faz parte de uma estratégia de lojas virtuais para criar avaliações falsas de supostos clientes em plataformas de e-commerce. Esse pode ser o motivo de diversas pessoas, no Brasil e também em outros países, estarem recebendo encomendas cheias de sementes sem terem comprado nada.
Daniela Santos, 44 anos, de Gravataí, no Rio Grande do Sul, é uma delas. “Fui abrir a embalagem e me deparei com um ‘pacotinho’ embrulhado em papel bolha. Poucos dias antes, eu havia lido sobre o que estava acontecendo, então estava a par da situação, mas mesmo assim, fiquei muito surpresa.”
Segundo o Ministério da Agricultura, 199 pacotes foram entregues em 23 estados e no Distrito Federal. Todos esses pacotes foram originários de países asiáticos, como China, Malásia e Hong Kong.
“O “brushing” consiste no envio de um item que simula uma compra para o vendedor usar o código de rastreamento do pacote para avaliar a própria loja e melhorar sua reputação. As lojas melhores ranqueadas em uma plataforma ganham destaque e vendem mais”, explica Artur Igreja, especialista em tecnologia e inovação e professor convidado da FGV.
Igreja explica que o destinatário pode ser escolhido a partir de informações disponibilizadas pelas pessoas na internet e nas redes sociais. “Os dados como e-mail, endereço e nome completo podem ser coletados sem ter como origem um grande vazamento de dados. As próprias pessoas deixam essas informações abertas e isso pode ser usado no brushing”, alerta o especialista.
Não existe ainda uma explicação para o envio das sementes ao invés de outros produtos que poderiam ser usados nessas vendas fantasma. “A hipótese mais provável é que as sementes foram escolhidas por serem leves e baratas, o que torna mais vantajoso para o envio das encomendas”, diz Igreja.
O jornal norte-americano Wall Street Journal fez uma reportagem em 2015 denunciando a prática de brushing na plataforma Alibaba, um famoso marketplace chinês. Esse foi o primeiro registro da prática que fere as diretrizes das plataformas com o objetivo de enganar clientes e que se espalhou para outros países.
Segundo Igreja, o Brasil se tornou um alvo do esquema por ter uma população que é muito ativo nas redes sociais e por ser o destino de muitas compras feitas pela internet diretamente da China.
A principal orientação é não abrir os pacotes de sementes recebidos pelos correios, apesar de não existir riscos envolvidos até o momento. Em seguida, a pessoa deve entrar em contato com a Superintendência Federal de Agricultura de seu estado ou o órgão estadual de defesa agropecuária para providenciar a entrega ou recolhimento do material.
“Como sei que não pode descartar no lixo normal, deixei as sementes guardadas. Fui informada de que deveria entregá-las ao FMMA (Fundação Municipal de Meio Ambiente de Gravataí). Pretendo fazer isso ainda essa semana”, afirma Daniela.
Fonte: R7