Em agosto o Espírito Santo decretou estado de atenção para o período de escassez hídrica. De acordo com a Defesa Civil Estadual, os municípios de Alfredo Chaves, Iconha, Marataízes, Piúma e Rio Novo do Sul já solicitaram a decretação de estiagem pela falta de chuva que tem atingido os municípios do sul do Estado. A estiagem em Anchieta tem deixado os pastos completamente secos e muitos animais estão morrendo de fome e sede. De acordo com o secretário de Agricultura do município, Fabiano Mezadri, 159 animais morreram, mas a quantidade pode ser entre 40% a 50% maior porque muitos agricultores não procuram a prefeitura para dar uma destinação adequada ao animal.

Na fazenda do pecuarista Cenildo Ferreira, os animais do rebanho estão sofrendo com os efeitos da estiagem no pasto. Para manter o gado vivo, Cenildo recorre a uma mistura de cana de açúcar e silagem de milho porque as pastagens estão secas e sem nutrientes suficientes para alimentar os animais.

Até mesmo essa combinação tem impacto para o produtor devido a alta dos preços. “O silo começou a ficar muito caro. Ficou inviável os produtores comprarem, mas somos teimosos e queremos salvar o animal até a última hora”, disse.

Na propriedade de Cenildo são 130 animais destinados ao corte. Como estratégia para manter a sua fonte de renda e não ver o gado sofrer ainda mais, dividiu os bovinos em lotes de terra. 70 vacas com crias são tratadas no cocho com uma atenção a mais e as outras ficam divididas para não causar briga por conta do pouco alimento.

O engenheiro agrônomo do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Danilo Seccom, explica que os animais ficam estressados por ter que disputar comida com os outros. “O instinto natural do animal é querer garantir o alimento antes dos outros e com esse estresse elevado pela falta de alimento e calor os animais ficam mais violentos. Os mais fortes acabam conseguindo se alimentar um pouco melhor do que os mais fracos”, explicou.

A falta de comida para o gado é generalizada entre os produtores. Na propriedade da produtora rural Graciete Nascimento a situação se complica a cada dia. A primeira opção de investimento da família foi a produção de gado leiteiro, mas sem comida e água suficiente o gado não desenvolveu e o leite secou. A produção de café foi considerada, porém com a seca a florada já está comprometida.

Em Anchieta choveu menos do que o esperado

Para a recuperação da pastagem seria necessário uma mudança de tempo com chuvas mais regulares. Chuvas finas e esparsas não mudariam o cenário porque o capim precisa de pelo menos de 60 dias para começar a brotar. De acordo com o Incaper, a estiagem é comum nesse período do ano, mas nos municípios do sul do Estado choveu menos de 10% da média histórica nos últimos meses.

“Tem uma média de previsão de chuva, de janeiro a julho, de mais ou menos 577 milímetros. No entanto, foram registradas somente nesse período 296 milímetros, em resumo, choveu mais ou menos a metade do que deveria ter chovido”, explicou o engenheiro agrônomo do Incaper, Paulo Rodrigues.

Fonte: Folha Vitória