“Tornar melhor a vida dos agricultores de todo o mundo! É isso que o Fairtrade significa para mim”. Assim a CEO mundial do sistema Fairtrade, que recentemente esteve pela primeira vez no Brasil, resumiu a importância desse modelo de comercialização de produtos agrícolas. Sandra Uwera afirmou que o Comércio Justo no país ainda tem muito para crescer.
Sandra nasceu em Ruanda, no continente africano, e hoje comanda o Fairtrade, que é uma rede com quase dois milhões de produtores no mundo, integrantes de 1.880 organizações de pequenos produtores. Em sua passagem pelo Brasil, ela afirmou que a intenção é que o número de produtores rurais integrantes do Fairtrade cresça no país, para que mais famílias tenham acesso aos benefícios de fazerem parte do Comércio Justo.
Ela destacou as questões econômicas, como o aumento do custo da produção e a redução do poder aquisitivo dos consumidores, além dos aspectos políticos mundiais, como desafios, mas afirmou que há muito potencial para os produtores brasileiros.
“O Brasil exporta alguns produtos de alto valor certificados Fairtrade como: café, suco de laranja, castanhas e algumas especiarias para o mercado europeu. O país também está focado no aumento de sua capacidade de exportação de bananas e em fazer mais parcerias no mercado sul, comprando e vendendo aqui na América Latina”, informou.
A CEO mundial do sistema destacou a liderança brasileira na exportação de café. “Um importante percentual desse café é vendido sob os termos do Fairtrade. Nós estamos muito interessados no crescimento dessa relação ao longo do tempo e esperamos encorajar mais empresas a terem políticas de investimento e de compra socialmente conscientes”, salientou.
Sandra frisou a importância de expandir as vendas de todos os produtos Fairtrade brasileiros em prateleiras internacionais, como na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul. “Nosso interesse é crescer continuamente para nos tornarmos mais ágeis para os desafios das condições econômicas de agora e trazermos mais inovação ao mercado”, garantiu a CEO.
Agricultura brasileira encantou a executiva mundial
Durante seis dias em que permaneceu no Brasil, Sandra Uwera participou de um evento em Porto Alegre (RS), e depois visitou a Cooperativa de Produtores Rurais de Agricultura Familiar (Coperfam), que fica em Bebedouro, interior de São Paulo, mas que possui cooperados em 26 municípios paulistas e de Minas Gerais. A organização é certificada Fairtrade e exporta suco de laranja de pequenos agricultores, que produzem 540 mil caixas de laranja anualmente.
O vice-presidente da cooperativa, João Roberto Gasperini, recepcionou a CEO mundial. “Não esperávamos ter essa visita, sabendo-se que no Brasil temos várias outras cooperativas e associações certificadas Fairtrade maiores e com produtos mais importantes do que o nosso, como o café. Isso nos mostra que no Fairtrade todos somos tratados com equidade”, disse.
Na visita a uma propriedade de cooperados, Sandra almoçou e aprovou os diversos pratos oferecidos pela família, feitos com produtos plantados por eles. “Ela conheceu as variedades de laranja, o plantio, os cuidados necessários, algumas necessidades de adaptação às mudanças climáticas como: irrigação, cobertura de solo, instalação de fossa séptica, monitoramento de pragas e doenças através de armadilhas biológicas, a importância dos implementos disponibilizados pela cooperativa, além da importância da assistência técnica”, relatou João.
Também foram apresentados alguns dos 30 projetos e ações realizados com o valor recebido por meio do “Prêmio Fairtrade”. “Precisamos divulgar para o consumidor que os produtos licenciados Fairtrade promovem a permanência do agricultor familiar no campo e ao mesmo tempo preserva a natureza, além de praticarmos a maioria dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU”, enfatizou o dirigente da Coperfam.
Cooperados da organização, o agricultor Adilson Antonio Abreu, a sua esposa Ivone Francisca dos Reis Abreu e o irmão Everaldo José de Abreu receberam Sandra na propriedade da família. Adilson contou que ele e seu irmão herdaram o sítio e sempre plantaram laranja, mas ele afirma que se não fosse a cooperativa e o Fairtrade, eles não estariam mais na atividade agrícola, que é a única cultura agrícola da propriedade, que fica no município de Cajobi (SP).
“Antes da Coperfam, vendíamos a nossa laranja para as grandes empresas e não conseguíamos bons preços. Depois da cooperativa, mudou da água para o vinho. Se não fosse isso, não estaríamos mais produzindo. O pequeno, sozinho sofre muito, mas quando se une em uma cooperativa, se fortalece e fica grande. Nunca imaginava que o suco da nossa laranja fosse vendido para o exterior”, relatou o agricultor.
“Fairtrade é dar a voz para os sem voz, para a minoria, para as comunidades marginalizadas que estão realmente comprando ou vendendo comida por uma renda. É empoderar os produtores, lhes fornecer as ferramentas corretas, dando-lhes mais poder para que passem de uma subsistência familiar a engajamentos mais comerciais, que possam lhes dar mais poder de negociação por melhores preços de seus produtos no mercado internacional. É alçá-los para fora da pobreza e colocá-los na posição de sair de um mercado muito pequeno e crítico e expandir para um mercado maior em seus próprios países e internacionalmente”, enfatizou Sandra Uwera.
A executiva também foi até a capital paulista, onde conheceu a unidade da sorveteria Ben & Jerry’s, no bairro Jardins, e que utiliza produtos Fairtrade em toda a sua rede mundial. A coordenadora de missão social, ativismo e cultura da empresa, Ananda Puchta, informou que a parceria da Ben & Jerry’s com o Fairtrade é longa e sólida.
“Todos os produtos que utilizamos nos sorvetes super premium são certificados Fairtrade, como açúcar, café, cacau, banana e chocolate. Foi importante receber Sandra, Na nossa conversa, buscamos maneiras de estreitar ainda mais essa parceria”, revelou Ananda.
Quem é Sandra?
Sandra Uwera é cidadã de Ruanda. Ela cresceu no Quênia e em Ruanda, fala francês, inglês e kiswahili, que é sua língua nativa. Possui Master of Science (MSc) em Planejamento Estratégico, Bacharel em Comunicações Corporativas e realizou treinamento profissional avançado em política e direito de comércio internacional, inclusão digital e liderança para a sustentabilidade dos negócios. Ela faz parte de vários conselhos na África e internacionalmente.
Tem 20 anos de experiência profissional na África Oriental e Meridional. Atuou como CEO do COMESA Business Council (CBC), a principal organização de membros empresariais na África e uma instituição do setor privado do Mercado Comum para a África Oriental e Austral (COMESA), que representa 34 setores empresariais em 21 países.
Como parte de seu trabalho com CBC e COMESA, liderou projetos e programas sobre soluções sustentáveis para pequenas e médias empresas, advocacia, capacitação técnica, competitividade da indústria e acesso ao mercado, inclusão financeira digital e programas focados no empoderamento de mulheres e jovens. Ela assumiu o cargo de CEO Global Fairtrade em março de 2022.
O que é o Fairtrade (Comércio Justo)?
O Comércio Justo é um movimento social e econômico, cujas experiências pioneiras datam do final de 1940 como respostas alternativas ao fracasso do modelo de comércio convencional de promover padrões produtivos-comerciais. É um modelo de desenvolvimento responsável e sustentável e de oportunidades para os pequenos produtores, agricultores e artesãos em desvantagem econômica e social. Busca fomentar uma cultura de consumo responsável para que os cidadãos/consumidores entendam a importância de comprar diretamente de pequenos produtores e artesãos organizados democraticamente.
Fairtrade no Brasil
A Associação das Organizações de Produtores Fairtrade do Brasil (BRFAIR) é coordenadora nacional de Comércio Justo do Brasil, com a função de representar as 42 associações e cooperativas de pequenos produtores certificados pelo Comércio Justo Fairtrade e 12 fazendas, agregando milhares de famílias brasileiras, principalmente que cultivam café e laranja.
A BRFAIR é membro da Coordenação Latino-Americana e Caribenha de Pequenos Produtores e Trabalhadores do Comércio Justo (CLAC), que é formada pela rede latino-americana de produtores coproprietários do sistema Fairtrade International. CLAC é a rede que representa todas as organizações certificadas Fairtrade na América Latina e no Caribe.
Prêmio Fairtrade e preço mínimo
As organizações certificadas Fairtrade contam com um preço mínimo e um valor de “Prêmio” pago pelos produtos comercializados como Fairtrade. O preço mínimo é calculado, baseando se nos custos de produção dos países produtores e visa assegurar o pagamento que cubra os custos do produto Fairtrade e assegure uma renda digna para esses produtores.
Além do preço mínimo, os produtos comercializados como Fairtrade contam com o pagamento do “Prêmio Fairtrade”, recurso esse que deve ser utilizado para projetos com o foco no desenvolvimento do grupo, como de segurança alimentar, saúde e segurança dos produtores, preservação do meio ambiente, ações sociais e melhoria da qualidade dos produtos certificados.
Fonte: Assessoria de Imprensa