Em entrevista ao R7, presidente da federação dos atletas conta que foi um erro o período de 20 dias de pausa. Conclusão dos Estaduais é prioridade
O prazo estabelecido para o fim das férias coletivas dos jogadores do futebol brasileiro irá se encerrar no próximo dia 20, quando a pandemia causada pelo novo coronavírus ainda não terá sido vencida no País.
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Desta forma, o presidente da Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol), Felipe Augusto Leite, de 50 anos, já adiantou que a posição da entidade, de haver férias de 30 dias, irá prevalecer e o prazo será estendido para até o dia 30 próximo.
Leite defende que a saúde do jogador é prioridade
Acervo pessoal
“Vão reparar um equívoco, apesar de que férias em quarentena não são a mesma coisa”, diz.
Nesta entrevista ao R7, Leite, ex-goleiro de clubes como América-RN e Vasco da Gama, ressalta que a maior preocupação do momento não é definir o retorno das atividades no futebol brasileiro: “O mais importante é a vida dos atletas”, disse. Além disso, há em pauta uma ajuda financeira aos clubes.
R7 – Quais são as atribuições da Fenapaf em relação à postura dos atletas?
FAL – Damos a orientação aos atletas em relação aos seus deveres, quando no curso dos contratos. A nossa atuação é essa, com valorização dos sindicatos estaduais, que são a base de todo o trabalho da Fenapaf. Queremos consolidar a legislação específica do atleta profissional, buscar segurança de emprego para todos, não só das principais divisões, mas daqueles que disputam apenas estaduais
R7 – Com a pandemia, a Fenapaf ganhou mais visibilidade. E como a entidade está atuando neste momento, em que as cobranças também são maiores?
FAL – A grande preocupação da Fenapaf neste momento é manter toda categoria informada, fazer com que CBF, federações e clubes entendam a necessidade da paralisação em benefício da vida dos atletas, que é o mais importante. Já conseguimos isso com a concessão das férias coletivas e com a garantia de que sejam mantidos intactos postos de trabalho, sem demissão nem rescisão. Anteriormente, já entendíamos que as férias deveriam ser integrais, de 30 dias, de 1º a 30 de abril. Em troca, haveria competições em dezembro. Mas fomos votos vencidos e os clubes quiseram estabelecer 20 dias. Felipe Augusto Leite, presidente da Fenapaf
R7 – O dia 20 de abril, fim das férias coletivas estabelecidas, se aproxima e a pandemia ainda não terá sido controlada. Vocês pensam em estender o prazo?
FAL – Anteriormente, já entendíamos que as férias deveriam ser integrais, de 30 dias, de 1º a 30 de abril. Em troca, haveria competições em dezembro. Mas fomos votos vencidos e os clubes quiseram estabelecer 20 dias. Mas já está sendo finalizada uma nova determinação de se estender por mais 10 dias as férias. É uma posição que além de tudo encontra amparo legal na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Vão reparar um equívoco, apesar de que férias em quarentena não são a mesma coisa.
R7 – A preocupação com o calendário pode acelerar o reinício das competições?
FAL – Não concordamos com isso e não será isso que ocorrerá. Toda a futurologia neste momento é precipitada. Não se sabe ao certo quando isso vai acabar e nem quando o futebol vai voltar. Depois os departamentos de fisiologia ainda irão estabelecer planos, haverá uma intertemporada e só então as competições retornarão. Por enquanto não dá para se fechar um prazo, só quando todas as autoridades de saúde, municipais, estaduais e federais definirem que é possível o retorno. Nossa preocupação número 1 é salvaguardar a vida e a saúde dos atletas.
R7 – Mas há algum risco de os estaduais terminarem sem definição?
FAL – Como disse, depois que as autoridades permitirem, começaremos a fazer as contas. Insisto apenas que é fundamental a garantia do término dos estaduais. E a CBF me garantiu que essas competições irão até o fim. Os estaduais são a base da pirâmide no futebol brasileiro. Quem disputa somente os estaduais é que possui essa base e esses clubes precisam ter garantida a possibilidade de honrar contratos e não deixarem seus jogadores sem receber salários.
R7 – O que ainda pode ser feito para a proteção dos direitos dos jogadores neste momento?
FAL – Temos de aguardar ainda o cenário, vislumbrar uma mudança positiva em relação a essa pandemia (para pensar em retorno das atividades) e acima de tudo fazer com que os clubes honrem os contratos, honrem os salários atrasados, que façam pelo menos um parcelamento dos pagamentos, mas que não deixem o jogador de futebol sem o sustento dele e da família neste momento tão difícil. É fundamental a garantia do término dos estaduais. E a CBF me garantiu que essas competições irão até o fim Felipe Augusto Leite, presidente da Fenapaf
R7 – O que teve de ser feito no momento em que as competições foram interrompidas?
FAL – Acionamos tanto a Comissão Nacional de Futebol quanto a CBF, apresentando aquela relação de iniciativas, como ajuda financeira a clubes menores, abertura de linha de crédito aos maiores (aqueles que precisam e pagar os salários atrasados), para pagarem as férias o salário de abril. Todas essas medidas foram absorvidas pela CBF nos últimos dias, estamos dioturnamente em contato com a comissão.
R7 – Como os clubes que não participam nem das séries C e D, que são muitos, podem ser ajudados?
FAL – A ajuda vai para as federações estaduais e, ajudando essas federações, elas certamente chegarão aos clubes que não fazem parte das séries C e D.
R7 – Os atletas passaram a ser mais ouvidos neste momento?
FAL – A negociação coletiva que iniciamos com a comissão foi feita ouvindo todos os sindicatos e os atletas. A grande maioria dos atletas se pronunciou ou com a Fenapaf ou diretamente com os sindicatos. Foi uma atuação conjunta, sob a observação da CBF.
R7 – Como a Fenapaf vê essa discussão sobre a redução dos salários dos jogadores neste momento?
FAL – A Fenapaf vê com absoluta naturalidade, nada que desabone. O desejo do atleta reduzir ou não é um direito personalíssimo. As individualidades devem ser respeitadas, cada um sabe o valor, o suor desempenhado naquele exercício. Para um 5% tem um valor, para outro que reduzir 10% também, ele sabe que essa quantia tem um sofrimento tem um desempenho, uma valorização diferente.
R7 – E em relação àqueles que se recusam a ter seus salários reduzidos?
FAL – Também temos que entender os que não permitem. É algo pertinente, justo, pois se essa redução ocorresse como foi proposta, há clubes que não pagam desde janeiro. Como se pode entrar em uma negociação coletiva nacional e aceitar que um clube que não paga há três meses ainda vai reduzir o seu salário? Essa questão tem de ser individualizada conforme propusemos e coforme foi definido.
R7 – Isso vale para todos os jogadores, inclusive os que recebem menos?
FAL – Os que só ganham salário mínimo, como vai reduzir? Tem até uma questão de inconstitucionalidade. 90% dos jogadores do Brasil ganham até 2 salários mínimos e não acho justo reduzirem salários tão baixos, ainda mais em um momento tão imediato como este. A situação é para acalmar, pensar com equilíbrio. A situação estava tão açodada que veio medida provisória prevendo que não haja redução de salário quando o trabalhador ganhar até R$ 3.135,00. A maioria esmagadora dos jogadores ganha isso ou menos. Aqueles que ganham mais, que se acertem individualmente com os clubes ou por meio de uma negociação coletiva estadual.
Fonte: R7