O ministro da Saúde disse a prefeitos que a negociação seria para a compra de 100 milhões de doses do imunizante da Pfizer
O Ministério da Saúde informou nesta quarta-feira (3) que irá comprar as vacinas da Pfizer e da Janssen, após meses rejeitando propostas destas empresas. Segundo a pasta, o ministro Eduardo Pazuello pediu para a sua equipe “acelerar” os contratos. Em reunião com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o general afirmou que a compra com a Pfizer poderia ser concluída ainda nesta quarta.
A fala de Pazuello ocorre no momento de explosão de internações e colapso de sistemas de saúde em todo o país. O governo é pressionado para ampliar a oferta de imunizantes, mas Pazuello e o presidente Jair Bolsonaro rejeitam há meses a oferta da Pfizer.
O ministro não informou quantas doses da Pfizer devem ser compradas. Em apresentações recentes a prefeitos e governadores, Pazuello disse que a negociação seria por 100 milhões de doses, mas com a entrega de uma primeira parcela de 8,71 milhões de doses em julho. O restante, entre outubro e dezembro.
A Câmara aprovou na terça-feira, 2, um projeto para que a União possa assumir as responsabilidades por eventuais efeitos adversos de vacinas da covid-19. Trata-se de exigência da Pfizer e da Janssen que o governo vinha apontando como abusiva.
Como revelou o Estadão, esta permissão chegou a ser colocada em versão prévia da medida provisória 1.026/2021, com aval da pasta de Pazuello e da área jurídica do governo, mas foi excluída do texto final, publicado em janeiro.
A coordenadora de UTI da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Viviane Cordeiro Veiga, relata preocupação com o crescimento. “O número de internações é muito variável, visto que a rotatividade em UTI é alta. Verificamos, nessa segunda onda da pandemia, uma porcentagem expressiva e preocupante de pessoas mais jovens e de pacientes graves. Dependendo de outras comorbidades, as chances de permanência e o risco de óbito crescem”, diz a intensivista e cardiologista.
Na primeira onda da covid-19, os jovens representavam cerca de 10% dos internados em estado grave. Atualmente, eles superam os 15% e, em alguns locais, chegam a 20% dos leitos de terapia intensiva.
Para Suzana, a resistência desses pacientes é a causa de eles ficarem mais tempo internados. “Esses pacientes têm uma tendência de serem mais tolerantes a medicamentos e têm menos chance de mortalidade, uma vez que as disfunções orgânicas tendem a ser menor. A probabilidade de cura das pessoas até 55 anos é grande, já que eles vão melhorando com o tempo e os tratamentos”, explica.
A falta de leitos para pacientes graves acontece por um conjunto de fatores e não somente pela maior permanência de infectados nos hospitais, segundo ela. De acordo com o IDO (Índice de Desigualdade na Oferta), um levantamento feito pelo Instituto Votorantim com dados das secretarias de saúde estaduais, 12% das vagas de UTIs criadas entre junho e julho de 2020, devido à primeira onda da pandemia, foram fechadas. Das 21.651 criadas, 3.009 não existem mais.
“Os leitos foram criados na primeira onda e os contratos foram acabando e não foram renovados. Enquanto os números estavam mais controlados, era até suficiente. Mas nós sabíamos que as taxas iam subir novamente com os feriados de fim ano e o afrouxamento do isolamento”, diz a médica se referindo a mais uma causa do colapso.
“O paciente tinha uma média de 10 dias de internação, atualmente está em 12 dias ou até mais tempo. Essa percepção não é homogênea no Brasil todo, mas ainda não sabemos se é a variante [mutação brasileira que apareceu no Amazonas] que tem uma carga viral maior e demora mais para curar ou se os casos estão mais graves”, conta presidente da Amib.
De acordo com a médica Viviane Cordeiro Veiga, o crescimento do número de pacientes com maior gravidade acontece em todas as faixas etárias. “Quem chega ao hospital está vindo com condições piores das que recebíamos nos primeios meses. No começo, tivemos vários casos graves. Em setembro, outubro diminuiu. Agora, tem muitos pacientes em situação ainda mais complexa do que na primeira fase”, garante.
Falta de recursos humanos
Outro fator apontado por especialistas é a situação emocional e o cansaço dos profissionais de saúde em todo o país. Há mais de um ano, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e fonoaudiólogas que trabalham na linha de frente estão com um carga de trabalho muito alta.
A presidente da Amib chama atenção que a criação de novos leitos sem profissionais especializados e capacitados também pode contribuir para o aumento da permanência dos pacientes internados.
“Não é só leito, as equipes estão exaustas e não tem mais profissionais capacitados para atender pacientes de alta complexidade. Em UTI, trabalham diferentes profissionais, não é só o médico e o enfermeiro. O maior problema são os recursos humanos” diz ela, enfatizando a capacitação de profissionais.
“A formação do intensivista não é rápida, estamos treinando os profissionais e não é o recomendável. Hospitais colocam um médico e um enfermeiro para cuidar de 20 leitos, sem outras especialidades ajudando, aí o tratamento pode levar mais tempo, infelizmente”, acrescenta.
Diante disso, a especialista acredita que os números ainda terão um aumento e a solução tem de vir das pessoas. “Antes de cair, o número das internações deve aumentar ainda mais. Chegou a vez da comunidade fazer a sua parte. Já deveria ter feito desde o começo, nós, dentro dos hospitais, estamos fazendo de tudo. A pessoa tem de entender que se não respeitar o distanciamento, ela ou um familiar ficará doente, precisará de internação e não terá lugar”, alerta Suzana.
Os hospitais Alemão Osvaldo Cruz e Santa Catarina, ambos em São Paulo, foram procurados pelo R7 e não registraram mudanças nos perfis dos pacientes internados em UTI.
Fonte: R7