Ele foi um dos ícones do esporte em uma época de conquistas do Brasil e, bicampeão mundial, faz parte da lista dos melhores lutadores da história
O boxe brasileiro se despediu de sua lenda. Morreu neste domingo (02) aos 86 anos, o ex-pugilista Éder Jofre, campeão mundial dos pesos-galo e pesos-pena, entre os anos 60 e 70. A morte foi confirmada pela família, mas a causa não foi revelada.
A conceituada revista The Ring, dos Estados Unidos considerou Éder, conhecido como “O Galo de Ouro”, como um dos melhores pugilistas de todos os tempos, em edição publicada em 2002.
Único brasileiro a ocupar o Hall da Fama do Boxe, Éder foi considerado, pela The Ring, o melhor pugilista da década de 60.
Durante muitos anos, ele foi atleta do São Paulo Futebol Clube, agremiação da qual era ferrenho torcedor.
Em homenagem feita em 2014, em Las Vegas, Éder recebeu do (Conselho Mundial de Boxe) o título de maior peso galo da história.
Naquela noite, em que ele foi representado pelo seu tio, ex-pugilista e técnico, Ralph Zumbano, estavam presentes ex-pugilistas renomados como Mike Tyson, Evander Holyfield, Floyd Mayweather, Sugar Ray Leonard e Julio Cesar Chavez.
As conquistas de Jofre, filho do argentino José Aristides Jofre, o”Kid Jofre”, que foi seu técnico e a quem admirava com devoção, o levaram a se tornar um dos ícones do esporte brasileiro.
Os anos 60 no Brasil eram também os tempos de Aero Willys, das franjas, da Jovem Guarda. De Pelé, Garrincha, do galã Gylmar, da Bossa Nova. Da tenista campeã Maria Esther Bueno e suas saias inovadoras. De Éder Jofre, que, como se dizia na época, “abafava”.
Carreira de camepão
Paulistano da “gema” – ele não escondia seu sotaque – nasceu em 26 de março de 1936, na rua do Seminário, região central de São Paulo.
Mas cresceu no Peruche e, em 1953, alimentado pelo ambiente familiar e pelas tradições da cidade, ele estreou nos ringues.
Na ocasião, participou do famoso torneio “Forja de Campeões”, patrocinado pelo jornal A Gazeta Esportiva, e que passou a ser um dos marcos entre os acontecimentos esportivos da época, se prolongando pelas décadas seguintes e existindo até hoje.
Disputou como amador a Olimpíada de 1956, em Melbourne, ano em que se tornou vegetariano.
Depois de se queixar de ter se preparado de forma equivocada, enfrentando lutadores mais pesados, foi derrotado pelo chileno Claudio Barrientos, a quem venceu por nocaute como profissional.
Estreou como profissional em 29 de março de 1957, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, local que se tornou sua verdadeira casa como esportista.
Lá, em sua primeira luta, venceu o argentino Raul Lopez. Naquele ano, em 16 de agosto, após uma sequência de lutas, empatou pela primeira vez, com o também argentino, mais experiente, Ernesto Miranda.
A revanche ocorreu no dia 6 de setembro seguinte, e também terminou empatada. Contra German Escudero, em 29 de junho de 1958, lutou pela primeira vez fora de São Paulo.
E venceu o oponente, no Auditório da TV-Rio, no Rio de Janeiro, no mesmo dia em que o Brasil se tornou campeão mundial pela primeira vez.
O primeiro título mundial veio em 18 de novembro de 1960, diante do mexicano Eloy Sanchez, no Auditório Límpico, em Los Angeles. Manteve o título até 18 de maio de 1965.
O manteve em lutas contra oponentes como o italiano Pierro Rollo e o venezuelano Ramon Arias.
Em 4 de abril de 1963, nocauteou no terceiro round o japonês Katsutoshi Aoki, em Kokugikan, Japão, e ficou com o cinturão mundial dos pesos-galo do Conselho Mundial de boxe.
Também permaneceu com o título até 1965, quando sofreu sua primeira derrota na carreira, para o japonês Masahiko “Fighting” Harada, no dia 18 de maio, em Nagoya.
Quase um ano depois, em 31 de maio de 1966, novamente foi derrotado por Harada, em Nippon Budokan, não conseguindo recuperar o título.
Foram as duas únicas derrotas na carreira de Éder, que totalizou 81 lutas, com 75 vitórias (52 por nocaute); duas derrotas e quatro empates.
Título como veterano
As derrotas por pontos, contestadas por Éder, o abalaram e ele deixou o boxe em 1966. Mas retornou em 1969, como peso pena.
Colecionou mais 14 vitórias até, aos 37 anos, em 1973, voltar a ser campeão mundial, no Ginásio de Esportes Presidente Médici, em Brasília.
Aquela vitória, por pontos em 15 assaltos, contra o cubano/espanhol José Legra, de maior envergadura, foi a conquista mais duradora de sua carreira.
Éder ainda lutou por mais três anos e parou em 1976, também abatido com a morte dos pais neste período.
Após deixar o boxe, foi vereador em três mandatos por São Paulo, entre 1986 e 2000, quando decidiu dedicar-se à família e desfrutar um pouco do tempo livre.
Sempre bem-humorado, Éder falava com orgulho de sua carreira. E se emocionava com homenagens, como a que recebeu da Câmara Municipal de São Paulo, em 2017.
Na ocasião, já havia sido diagnosticado com Encefalopatia Traumática Crônica, conhecida em tempos antigos como demência pugilística. Por muito tempo, pensou-se erradamente que ele tinha o Mal de Alzheimer.
Em 2013, ele ficou deprimido com a morte de sua esposa Cidinha, Maria Aparecida, com quem estava casado havia 52 anos.
Foi morar com a filha, Andréia e com o genro Oliveira. Além dela, ele tinha outro filho, Marcel.]
Éder ainda teve tempo de se emplogar no lançamento do filme sobre sua trajetóra, “10 Segundos para Vencer”, em 2018. E sempre procurava se exercitar em academias.
Em meio a lapsos de memória, as lembranças o faziam se reerguer sempre. Até o fim, Éder nunca desistiu de lutar. Contra as tristezas, contra as perdas, contra o esquecimento. E, assim como em sua carreira, terminou como vencedor, sem jamais ter sido nocauteado.
Fonte: R7