Junto do irmão, a auxiliar administrativa confrontou o tio de 46 anos, que confessou os crimes. A denúncia foi feita em setembro de 2019

Apenas aos 35 anos, Carla Vanessa Venâncio da Silva criou coragem de contar para a família sobre os abusos que sofreu de um tio dos 3 aos 11 anos. A mulher resolveu expor as violências após procurar por ajuda psicológica. 

Junto do irmão, a auxiliar administrativa confrontou o tio de 46 anos, que confessou os crimes. A denúncia foi feita em setembro de 2019 e, hoje, ela tenta alguma medida legal junto à Justiça. Ao que tudo indica, mesmo com a confissão do autor, o crime está prescrito e não há medidas legais a serem tomadas. 

“O primeiro abuso aconteceu na casa da minha mãe, quando eu tinha 3 anos. Os outros aconteceram na casa do meu avô paterno, no bairro Vicente de Carvalho, onde meu tio morava. Eles se repetiram por várias vezes, até os meus 11 anos, mas eu não entendia o que estava acontecendo”, lembra a mulher ao BHAZ.

O primeiro abuso aconteceu na casa da mãe dela. “Minha mãe lavava roupa para outras pessoas, a gente era muito pobre. Ela saiu para levar as roupas e pediu ao meu tio que ficasse comigo lá em casa. Ele me colocou dentro do quarto e começou a me forçar um sexo oral, o primeiro estupro. Ele colocava o pênis na minha boca, eu fechava a boca. Ele abria ela de novo até ‘finalizar’ o que queria”, relembra Carla. 

Quando a mãe ia trabalhar, ela, o irmão e o primo costumavam ficar na casa do avô, onde o tio morava na época. Ela relata que ele inventava “brincadeiras” para ficar sozinho com ela dentro do quarto. “Esse dia ele praticou estupro anal, na cama do meu avô. Tive sangramentos, minha mãe e meu pai me levaram ao médico. Foi identificada uma infecção intestinal, o médico nem tocou em mim. Como eu não sabia o que tinha ocorrido, não falei nada. O médico concluiu que a infecção que tive foi por conta de amendoins que eu tinha comido. Fiquei muitos anos proibida de comer amendoim de novo, até isso ele tirou de mim. Depois disso, ele arranjou outras formas de me estuprar”, continua.

“Ele não me penetrava mais, inventava que estava brincando. Me levava para o quarto e dizia que era uma brincadeira de dança. Ele colocava o pênis para fora e esfregava no meu corpo, ‘roçava’ na minha vagina. Ele sabia exatamente o que ele estava fazendo. Isso aconteceu por várias vezes. Eu arranho a minha pele até hoje, onde ele se esfregava. Sou obrigada a cortar as unhas para parar de me machucar”, lembra.

Os abusos continuaram até Carla fazer 11 anos. Nessa idade ficou marcado um dos piores abusos sofridos por ela. “Eu ia na casa do meu avô quase todos os fins de semana. Muitas pessoas da minha família moram ali perto. Nesse dia, estavam todos na casa da minha tia, que era vizinha do meu avô na época. Como já estávamos ali o dia todo, fiquei com sono e fui na casa do meu avô dormir um pouco”, explica.

“Eu lembro de já estar dormindo em uma cama de solteiro, em um corredorzinho que tinha casa. Acordei com uma dor muito forte, senti um peso muito grande, não conseguia me virar. Percebi que era ele em cima, pedi por favor para ele parar, pois estava doendo”, afirma para o portal.

“Eu sempre fui muito miúda, franzina. Ele tampou a minha boca, a mão dele era muito grande, tampava minha boca e meu nariz ao mesmo tempo, só tinha medo de morrer naquela hora. Pedia a Deus para não morrer. Ele escutou o barulho de alguém abrindo uma porta, aí saiu correndo pelo portão. A única coisa que fiz foi vestir minha calça e chorar muito, até dormir”, relata.

A auxiliar administrativa só foi entender o que havia ocorrido durante uma palestra no colégio, quando tinha 15 anos. “Era uma aula de educação sexual, na 8ª série. Quando foram explicando tudo, só conseguia me sentir culpada, que eu merecia passar por tudo aquilo. As falas dele, dizendo que eu era boazinha e que não ia contar para ninguém, ecoavam na minha cabeça”, continua.

“Tive uma tentativa de suicídio no dia em que eu contei para a minha família. A ‘caixinha’ abriu, tive muitas sensações. Nesse período, eu já estava tomando medicações e tomei toda uma cartela inteira de rivotril. Meu namorado veio e me levou na UPA, o médico prescreveu vários remédios. Disse para eu tomar bastante água, em vez de dormir, fiquei acelerada”, relembra sobre o dia.

Fonte: Jornal de Brasília