Jean Lang realizou exames em Ana Clara da Silva Soares, de dois anos, e disse que a menina apresentava lesões graves; ele também teve contato com o pai da criança

O médico que atendeu a menina Ana Clara da Silva Soares, de dois anos e seis meses, no Hospital Materno Infantil Francisco de Assis (Hifa), em Guarapari, disse que ela chegou à unidade com lesões graves nas regiões íntimas e que o comportamento do pai era de indiferença – o que levantou a suspeita de estupro. A criança morreu na madrugada do último 29 de abril. O pai e a mãe dela estão presos, suspeitos do crime.

“O número de lesões não era compatível com a história que era relatada para a gente. O pai estava ao meu lado, pertinho, mas com uma completa ausência de sentimentos. Estava preocupado com o celular, olhando para o aparelho, e pouco preocupado com a filha, que estava em estado gravíssimo”, disse Jean Lang.

Ana Clara deu entrada no hospital no dia 26 de abril em estado gravíssimo. De acordo com a Polícia Civil, o pai dela, identificado como Manoel Messias de Jesus Soares, de 44 anos, foi preso em flagrante por estupro de vulnerável. A mãe da criança, Catiucia Vila Nova da Silva, de 33 anos, também foi presa como coautora do crime.

Após saber da morte da menina, o médico publicou um vídeo nas redes sociais no qual fez um desabafo, ao descobrir que Ana Clara havia morrido. “Vi no jornal que ela faleceu. Olha, é difícil este caso. Talvez seja porque nesse final de semana minha filha faz três anos e a gente acaba ficando mais emotivo.”

Atuação da equipe médica

O médico disse ainda que a atenção de toda a equipe médica que atendeu a criança foi fundamental para acionar a polícia sobre a suspeita de estupro de Ana Clara.

“O médico que está no pronto-socorro, principalmente os recém-formados, deve ficar muito atento quando tem um número de lesões muito maior do que a história que é contada, quando existem informações que não se conectam”, explicou.

O médico destacou ainda que alterações no comportamento das crianças devem ser observadas pelos profissionais da saúde, que devem acionar a polícia ou o Conselho Tutelar caso percebam que os menores estão em situação de perigo.

“Crianças muito acuadas, com medo, que mudam o comportamento, que iam à escola e não gostam mais, urinando na roupa, defecando na roupa… A gente tem que atuar mesmo como detetive e aí entra nosso trabalho com o Conselho Tutelar e com a polícia”, disse.

Caso causou comoção

Segundo a Polícia Militar, a corporação foi acionada durante a tarde de sexta-feira (28) para verificar um suposto estupro de vulnerável no Hospital Infantil de Guarapari. No local, a equipe foi recebida pela coordenadora que relatou que havia a criança na unidade com quadro de infecção generalizada e que, após exames, foram identificadas lesões no ânus.

No entanto, segundo consta no boletim de ocorrência, com a insistência da polícia e do Conselho Tutelar, a mulher disse que o marido já tinha abusado sexualmente da filha mais velha dela, de 15 anos, e acreditava que o homem seria capaz de fazer o mesmo com a mais nova.

Questionada pelos militares, a mãe da criança disse que tinha cinco filhos e não tinha desconfiança sobre o suspeito.

Consta no documento que a mãe disse, inclusive, que outros parentes sabiam do abuso da menina mais velha, que é enteada dele, mas disse que nunca o denunciou por medo.

Ainda de acordo com a polícia, o hospital entrou em contato com Manoel e solicitou que ele comparecesse ao local. No hospital, e na presença dos militares, o indivíduo não se mostrou surpreso com a situação da criança e não confessou o crime.

O casal foi encaminhado para a Delegacia Regional de Guarapari, e as outras crianças foram resgatadas pelo Conselho Tutelar.

Questionada sobre a autuação do pai e da mãe de Ana Clara, a Polícia Civil informou que o Manoel Messias foi autuado por estupro de vulnerável qualificado e encaminhado ao Centro de Triagem de Viana (CTV).

Na manhã de sábado (29), Polícia Civil disse que a mãe de Ana Clara foi ouvida e liberada após a autoridade policial entender que não havia elementos suficientes para lavrar auto de prisão em flagrante naquele momento, como foi feito como o pai da menina na sexta-feira.

Fonte: A Gazeta