O levantamento foi realizado com gestores de grandes 50 companhias, incluindo CEOs e CFOs, vice-presidentes e diretores financeiros
De olho nos desafios pós-pandemia, empresas já planejam o orçamento de 2021 e mapeiam as principais metas para retomar as operações e recuperar eventuais receitas perdidas durante a crise. Para isso, frequentemente será necessário rever prioridades e estratégias para aumentar a produtividade.
Uma pesquisa realizada pela consultoria Falconi aponta que 65% dos gestores estão buscando novas metodologias para elaborar o orçamento, o que inclui implantação de tecnologias e monitoramento mensal dos níveis de produtividade.
O levantamento foi realizado com gestores de grandes 50 companhias, incluindo CEOs e CFOs, vice-presidentes e diretores financeiros. O objetivo foi identificar as principais preocupações e soluções de empresas no planejamento orçamentário para o ano que vem.
“As referências para construção do orçamento vão ser bastante afetadas. Por exemplo, benchmarkings (análise estratégica) ou resultados que se usava como alvos de rentabilidade e boas práticas serão alterados no planejamento para o ano que vem”, afirma Flávio Boan, sócio-diretor da Falconi.
Entre as principais ações para monitorar a execução dos planos de negócio para 2021, 39% dos entrevistados disseram que vão controlar mensalmente os níveis de operação avaliando os impactos das oscilações no mercado, 25% farão revisões periódicas do orçamento, 20% vão trabalhar com projeções para diferentes cenários, enquanto os outros 16% cumprirão o orçamento independentemente das variações da economia.
Boan diz que as empresas devem levar em conta três desafios no momento de elaborar o orçamento para 2021: retomada da receita nos níveis pré-pandemia, agenda de transformação digital e aumento da produtividade de funcionários.
“Nos anos anteriores, as prioridades eram reduzir gastos ou tentar expandir o mercado. Agora, a prioridade passa a ser trabalhar para que os investimentos sejam feitos nos lugares certos, para recuperar a receita perdida e o nível de atividade”, aponta.
Planejar a retomada da receita
De acordo com a pesquisa, 43% das empresas vai sofrer algum impacto negativo no tamanho das operações no próximo ano, o que também significa uma diminuição no faturamento. O sócio da Falconi acredita que os executivos terão de gastar mais tempo para identificar o que pode ajudar na recuperação da receita e na retomada do nível normal de operações.
“Será preciso realocar gastos para novos canais de vendas, promover o desenvolvimento de novos produtos em plataformas digitais e atender a novos hábitos de consumo. Além disso, é preciso estudar a eliminação de atividades que se mostraram menos necessárias com a pandemia, como viagens e aluguéis”, diz Flávio Boan.
Agenda Digital
De acordo com Boan, a pandemia fez com que o aprimoramento de processos digitais e implantação de novas tecnologias ganhasse ainda mais relevância no planejamento orçamentário das empresas. O levantamento aponta que 55% dos gestores pretendem acelerar áreas específicas de transformação tecnológica e investimentos em tecnologia, enquanto outros 22% devem fazê-lo em todo o negócio.
“Até então, para a maioria das empresas, isso não era tratado de forma relevante no planejamento empresarial. Agora, a agenda prevê buscar mais recursos de tecnologia que permitam usar técnicas de inteligência artificial para aperfeiçoar os processos, tornando algumas operações mais automáticas, rápidas, simples e, muitas vezes, mais baratas”, afirma.
Para ele, é possível utilizar bases de dados melhores para atingir resultados precisos. “Existem ferramentas digitais e abordagens analíticas que trabalham grandes bases de dados, que estão muito mais acessíveis do que no passado recente, para se extrair mais o conhecimento e, com isso, tomar decisões melhores, em termos de alocação de recursos para o próximo ano”.
Aumento da produtividade
Cerca de 33% das empresas responderam que irão reduzir o número de funcionários no mesmo quadro de funções, enquanto 39% disseram que vão eliminar cargos que já não fazem sentido. Para o diretor da Falconi, as companhias devem tomar cuidado para que essas baixas não alterem a produtividade dos colaboradores que permaneceram.
“As companhias precisam manter elevado o nível de engajamento, motivação e de saúde mental do time. Senão, há risco de grande perda de talentos, as pessoas podem ficar desmotivadas, e a empresa pode perder uma cultura baseada em seus valores, algo que se leva anos para construir”, diz.
Uma saída para isso é fazer com que mais colaboradores possam participar do processo de planejamento orçamentário e gestão inteligente de recursos. “Isso é possível quando a gente dá aos gestores e colaboradores instrumentos para que eles possam participar e discutir de maneira mais efetiva. Que não seja sempre uma coisa de cima para baixo, que não aplique as mesmas reduções de gastos para os departamentos, que são diferentes entre si”, conclui Boan.
Fonte: O Estado de S. Paulo