O comunicado do EI aponta um “soldado do califado” como o responsável pelos tiroteios perto de uma sinagoga e da Ópera de Viena
O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) assumiu, nesta terça-feira, a responsabilidade pelo ataque que deixou pelo menos quatro mortos em Viena, em um comunicado publicado em seus canais no Telegram.
O comunicado do EI aponta um “soldado do califado” como o responsável pelos tiroteios perto de uma sinagoga e da Ópera de Viena.
Em texto à parte, acompanhado de foto do agressor armado, a agência de propaganda Amaq menciona “um ataque com armas de fogo realizado ontem (segunda-feira) por um combatente do Estado Islâmico na cidade de Viena”.
Incompreensão em Viena, “onde nada realmente grave acontece”
Atingidos pela primeira vez por um grande ataque islamita, os vienenses, ainda em estado de choque, arriscaram-se a sair às ruas perto do local do tiroteio para tentar entender o que até recentemente parecia impensável.
A poucos metros do local do ataque, no bairro da Ópera e da Sinagoga, Shila permanecia na porta de sua livraria enquanto observava o trecho da quadra de paralelepípedos coberto por círculos de giz: um para cada bala.
Os primeiros tiros foram disparados na Sterngasse, pouco antes do reconfinamento austríaco entrar em vigor e quando este animado bairro do centro da cidade estava cheio de boêmios que brindavam pela última vez.
Seu irmão estava com a loja aberta quando o ataque ocorreu. “Estamos na Áustria e ele só entendeu o que poderia ser quando a polícia chegou. Pediram-lhe que apagasse todas as luzes e ficasse dentro de casa”, diz a livreira, que não quis dar o sobrenome.
“Hoje abri, mesmo sem clientes, não vou me deixar vencer”, diz a jovem.
Em poucos instantes, os vienenses perderam algo de que os habitantes da capital austríaca gostavam e se orgulhavam especialmente: uma profunda sensação de segurança.
“Não é Berlim ou Paris, talvez sejamos uma cidade grande, mas onde nada realmente sério acontece”, disse à AFP Sharut Günduz, recepcionista de um hotel próximo ao perímetro de segurança.
– Noite sem dormir –
As ruas estão quase desertas, perturbadas em seu silêncio pelo rangido do bonde.
Todas as lojas estão fechadas, as cadeiras cuidadosamente arrumadas para este mês de confinamento.
Ricardo, 30 anos, se recupera da noite que passou sem dormir tentando tranquilizar seus filhos e “ficar de olho no noticiário” da televisão, antes de assumir a guarda do estacionamento ao lado, após descansar apenas duas horas.
“Mas as câmeras de vigilância do estacionamento e todos os policiais que estão lá me dão segurança”, diz ele.
Metros de fita vermelha e branca ainda isolam a área. Dezenas de policiais uniformizados são vistos, alguns mascarados e usando capacetes, segurando suas armas para garantir a segurança do perímetro.
Especialistas da polícia científica, à paisana, verificavam até mesmo latas de lixo e gramados
Ao meio-dia, o chanceler Sebastian Kurz e o presidente Alexander von der Bellen depositaram três imensas coroas de flores, com uma fita vermelha e branca, as cores da bandeira. Em seguida, partiram em silêncio.
Não há velas, flores ou pessoas reunidas. Os vienenses foram convidados a ficar em casa, para respeitar o confinamento e facilitar as operações da polícia, que temia pela manhã a presença de outros agressores, finalmente descartada.
Curiosos, com os telefones nas mãos, pareciam um tanto temerosos em assistir às operações e tirar fotos.
“Tenho que respirar, não aguento mais, vou enlouquecer”, diz Friedrich Vösenüber, estudante que decidiu sair da janela para ver o bairro depois da tragédia embaixo de sua casa.
Perto do cordão de segurança, dois adolescentes contavam a história com palavras coloquiais: “Veja, lá estava ele com seu grande kalash”, diz um, referindo-se a uma arma Kalashnikov. “É uma guerra”, responde seu amigo.
Fonte: Agence France-Presse