Aumento de internações de idosos em SP e RJ acende discussão sobre dose de reforço para manter nível de anticorpos contra covid
O aumento do número de internações por covid-19 de idosos acima dos 80 anos em São Paulo e no Rio de Janeiro, observado por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), expôs uma preocupação que existe entre cientistas desde o começo da vacinação: por quanto tempo a imunização contra a covid-19 permanece após o esquema vacinal completo?
Para a infectologista Rosana Ritchman, diretora clínica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, a volta de casos de infectados entre os idosos não é surpreendente.
“Imaginávamos que as novas internações dos idosos começariam a acontecer. Porque essas pessoas receberam o imunizante há mais tempo e sabemos que, com o passar dos meses, a quantidade de proteção vai declinando”, explica a médica.
O infectologista Carlos Fortaleza, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp, pede cautela na análise dos dados levantados pelo Grupo de Métodos Analíticos em Vigilância Epidemiológica da Fiocruz.
“Isso é uma coisa muito sutil para dizer que é uma tendência. Tenho muito cuidado para fazer esse tipo de avaliaçã. É preciso esperar um tempo para ter dados robustos. Existe uma variação normal, uma semana mais, outras, menos. Se toda semana a mais eu falar de aumentou e na semana a menos eu comemorar que melhorou, estarei sempre falando alguma coisa com dados de curto tempo”, afirma Fortaleza.
Os motivos para esta volta podem estar ligados a dois fatores, segundo os especialistas: ação menor de imunizantes entre os idosos e o uso da CoronaVac na faixa etária, que, de acordo com estudos, a eficácia é menor com o passar do tempo e nos mais velhos.
“Alguém de 80 anos responde pior à vacina do que alguém jovem. A duração de proteção em alguém de 80 anos, eu imagino que seja mais curta mesmo. Juntamos ao fato de que muitas pessoas nesta faixa etária tomou a CoronaVac, que sabemos que tem uma proteção inferior ao ser comparada com as outras. Não para doença grave, mas de uma maneira geral. Não é surpreendente que após seis, sete meses as pessoas comecem a adoecer”, diz Rosana.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, 5,07 milhões de pessoas acima de 80 anos receberam o imunizante produzido pelo Instituto Butantan; enquanto 3,41 milhões foram vacinadas com a AstraZeneca, fabricada no Brasil pela Fiocruz.
O tema discutido pelo Ministério da Saúde e por especialistas é sobre a necessidade da dose de reforço para os mais velhos e qual imunizante seria o mais indicado para garantir o controle da doença. Fortaleza ressalta que o momento do país não é confortável para usar vacinas revacinando pessoas mais velhas.
“Tem gente estudando isso e temos de esperar. Agora, no Brasil, precisamos de uma força-tarefa para vacinar todo mundo. A proteção contra a covid não é individual e sim coletiva. Se muita gente estiver vacinada, o vírus circula menos e protege todo mundo. Não dá para desviar doses antes de vacinar a população inteira. Pode reduzir os problemas em alguns grupos, mas dificultar o controle da covid como um todo”, observa o infectologista.
Na última quarta-feira (4), a OMS (Organização Mundial da Saúde) pediu aos países que estão aplicando doses de reforço que parem a vacinação e doe para os países mais pobres que ainda não têm produtos suficientes para aplicar na população.
O ministro da Saúde Marcelo Queiroga anunciou, no dia 28 de julho, que a pasta está financiando um estudo, que será feito pela Universidade de Oxford, sem participação do Instituto Butantan, para definir a estratégia de vacinação no país.
“O ideal seria que tivéssemos vacina para todo mundo, tanto para completar a imunização quanto para dar o reforço em quem precisa. Em termos de saúde pública, creio que Ministério vai querer acabar logo com a vacinação, pelo menos de primeira dose, da população adulta. Em termos individuais, é claro que seria ideal a terceira dose”, afirma Rosana.
O ideal seria que tivéssemos vacina para todo mundo, tanto para completar a imunização quanto para dar o reforço em quem precisa
ROSANA RICHMANN, INFECTOLOGISTA
Mesmo que ainda não tenha uma definição sobre a evolução da imunização dos idosos, as recomendações dos profissionais de saúde seguem as mesmas do começo da pandemia. Prevenção não-farmacológica e evitar sair de casa sem necessidade.
“O número de casos no nosso país ainda continua crescendo, em patamares menores do que já foi, mas o vírus continua circulando, uma vez que vemos todos os dias o número de novos casos”, alerta Rosana.
“O controle do vírus tanto com vacinas, quanto por medidas não-farmacológicas, como uso de máscara, não sair de casa, parece que foi esquecido pela população e são fundamentais. É impensável parar de usar máscaras em qualquer idade, com ou sem vacinas”, reforça Fortaleza.
Fonte: R7